terça-feira, 18 de dezembro de 2007


Doce desespero

A noite estava com cheiro de sangue. Os vários anos de profissão me ensinaram a distinguir o cheiro de sangue de qualquer outro cheiro nesse mundo. Quando o vento soprava esse fedor adocicado em meu nariz, eu arregalava os olhos e prestava muita atenção para que esse sangue nunca fosse o meu. Sendo assim, a chance de eu permanecer vivo aumentava. Mas era certo que alguém, perto de mim, talvez não tivesse a mesma sorte.

Estava tudo quieto na rua. Nunca gostei disso. Rua à noite tem que ter barulho de cachorro, de gato, de rato e, ou de mosquito. A vida me ensinou que se nenhum som desse é ouvido – sinal que tem o bicho-homem por perto. E o bicho-homem sempre foi e sempre será o pior bicho. Portanto, andei por que tinha que andar – mas esperava o perigo, a qualquer momento, e ele veio.

-Aí tio, isso é um assalto! Não reage, tio! Não reage, porque nóis (sic) mata você!

Eu olhei para o meu lado esquerdo e vi sair de um beco dois garotos. O que me ameaçava não tinha mais que 11 anos e segurava na mão direita um revólver calibre 32. Do seu lado outro garoto – esse calado – aparentando uns 9 ou 10 anos, no máximo, e que segurava, com as duas mãos, um pedaço de pau. Conhecia bem o tipo deles. Provavelmente uma vida difícil desde o nascimento até aquele instante. Nem sempre conheciam os pais e quando conheciam – normalmente não valera a pena terem conhecido. Aqueles garotos eram os bandidos que eu matava freqüentemente. Mas sempre eu os matava quando crescidos. Aquele ainda não era o momento. Eles deram sorte por serem tão jovens.

-Na moral! Calma, na moral! Estou tranqüilo! Só tenho a carteira aqui – podem levar! Na moral, porra! Calma que eu não vou reagir!
-Se reagir, nóis mata! Se reagir, nóis mata, já falei, tio!
-Beleza! Entendi! Estou tranqüilo! Na moral!

Os garotos pegaram minha carteira e saíram correndo no meio da escuridão. De repente o cheiro de sangue sumiu. Parecia até ter ido embora com os garotos. Eu estava armado, obviamente, mas já entregara a carteira nas mãos deles para que não percebessem minha arma enganchada ao cinto. O assalto tinha dado certo para todos. Eles levaram a minha carteira e eu fiquei com a minha vida. Uma troca justa, diante das alternativas. Nós três estávamos felizes naquele noite. O cheiro de sangue não me perseguira mais durante minha volta para casa.

Meu raciocínio era simplista. Eu tinha uns R$ 70,00 na carteira – xerox dos documentos – nunca gostei de andar com documentos originais – e uma foto de Alice. Coisas que eu recuperaria no dia seguinte, com toda certeza. Quanto aos garotos, guardara bem a fisionomia deles e torcia para que eles agüentassem vivos mais alguns anos. Um dia eu cobraria meus R$ 70,00 e eles entenderiam que aquele dinheiro ficou muito caro. Antes eles não tivessem me roubado. Um dia da caça, outro do caçador.

Obs: trecho do livro DOCE DESESPERO ainda em processo de escrita pelo jornalista Fábio de Lima.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007


Fábio

No próximo domingo, 09 de dezembro, eu, Fábio de Lima, jornalista e escritor, um contador de histórias, um estelionatário das letras, completo 31 anos. Parece que foi ontem. A vida passa rápida, caro leitor amigo do Comunique-se. E durante essa semana tenho sentido uma melancolia anormal. Penso que ela não tem nada a ver com a idade – com a síndrome dos trinta e poucos anos. Não, penso que não é isso. Acredito, realmente, que não é nada disso. Acho que é solidão de mim mesmo. Sei lá.

Na vida a gente nasce, cresce, reproduz e morre. Acho que foi isso que aprendi na escola. Mas a vida mesmo, a vida de verdade, nos reserva momentos menos previsíveis. E aí que mora o problema. Como lidar com as surpresas? Como ser o homem que é e não o homem que sonha em ser? Fiz análise durante um tempo. Escrevo, sempre, nas horas vagas. Sou um constante observador de mim mesmo. Tento me conhecer mais a cada instante e ser alguém melhor do que a realidade me leva a ser.

Quando comecei a escrever esse texto dei a ele o título provisório de Página virada. Mas, conforme o texto foi ganhando forma e estilo, percebi que havia mais de mim nele do que as outras histórias que costumo contar. Ele, sem pretensão inicial, desenha meu rosto, num pedaço de papel, com suas rugas de alegrias e tristezas ao longo da vida. Sim, num pedaço de papel, caro leitor amigo. Esse texto que você lê não é para o Comunique-se e nem para qualquer outro lugar ou para qualquer outra pessoa. Esse texto eu escrevo para imprimi-lo e presentear-me pelo aniversário desse ano. Esse texto sou eu diluído em palavras.

Enquanto escrevo, deixo as lágrimas escorrerem pela face. Não se assuste, caro leitor amigo. Não sinto depressão ou coisa similar. O fato é que sou assim – alguém que escreve os sentimentos e não os pensamentos. Minha solidão de hoje é só vontade de me olhar no espelho e encontrar minha alma. Rosto e corpo a gente vê todo dia – mas a alma, ah a alma..., a alma, só às vezes. Feliz aniversário, Fábio! Caro leitor amigo, meu presente desse ano é o encontro dos meus sentimentos com a minha literatura e comigo mesmo. Para completá-lo e deixá-lo ainda mais com a minha cara, peço apenas um poema emprestado do gênio Carlos Drummond de Andrade:

E agora, Fábio?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Fábio? E agora, Você?

Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta? E agora, Fábio?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou, e agora, Fábio?

E agora, Fábio?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta;
quer morrer no mar, mas o mar secou;
quer ir para Minas, Minas não há mais.
Fábio, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....Mas você não morre, você é duro, Fábio!

Sozinho no escuro qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua para se encostar,
sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, Fábio!
Fábio, para onde?

domingo, 18 de novembro de 2007


Sem título

- Senta.
- Não, obrigado. Trabalho sentado o dia inteiro e agora acho melhor ficar assim – esticando as pernas – entende?
- Entendo.
- Mas e você – o que tem feito?
- Eu estou escrevendo um livro.
- Sério?
- Sim.
- E do que fala esse seu livro?
- Fala de amor.
- Sério?
- Sim.
- Poxa, que legal. Você sempre quis ser escritor, né?
- Sempre.

Flávio e Felipe eram amigos desde os cinco anos de idade. Flávio sempre se lembrava do dia que viu a mudança da família de Felipe chegando num caminhão e parando na casa vizinha a dele. Havia de tudo naquele caminhão de mudanças. Foi a primeira vez que Flávio viu uma tartaruga. Também foi a primeira vez que viu um papagaio. E havia, ainda, cachorro, gato, tio, avô e avó. A família de Felipe era grande. E o garoto chegava, junto com a mudança, carregando debaixo do braço uma bola de couro novinha. Também foi a primeira vez que Flávio viu uma bola de couro. Aquelas duas crianças se tornariam grandes amigos a partir daquele momento.

- Tem visto a Carla?
- Nunca mais. Acho que ela foi morar em outro Estado. Ela sempre falava em morar no Nordeste, né?
- É.
- Mas me conta: esse livro já tem quantas páginas?
- Muitas. Na verdade eu já o terminei.
- Sério?
- Sim.
- Poxa. Não sabia. Quer dizer que você já escreveu tudo? Poxa. Nem sei o que dizer.
- Tudo ainda não, Felipe. Falta o título.
- Título?
- É.
- Poxa Flávio, mas o título é o mais fácil.
- Você já escreveu algum livro, Felipe?
- Não. Claro que não. Mas acho que o título é fácil. Poxa, Flávio, quem escreve um livro escreve um título, né?
- É? Não sei. Esse é o primeiro livro que escrevo.

Flávio estava internado fazia quase 15 anos. Tudo havia começado numa tarde de domingo de 1993. Depois de almoçar com a família, Flávio começou a falar algumas coisas desconexas. No princípio seus familiares acharam que era uma brincadeira. Flávio sempre teve um humor ácido. Mas não demorou muito e todos perceberam que algo estava errado. Flávio passou a olhar mais fixamente para seus interlocutores e a falar mais pausadamente que de costume, e com raciocínios nem sempre muito lógicos. O jovem de 17 anos, aspirante a escritor, repentinamente, havia enlouquecido.

- Bonita sua camisa.
- Você gostou? Foi a Suzana que me deu. Ela comprou uma para mim e outra para o Thiaguinho.
- Thiaguinho?
- É. Meu filho com a Suzana, Flávio. Poxa, eu já te falei dele das outras vezes que vim aqui.
- Falou? Não me lembro.
- Falei. Ele já está com 5 anos. Ele é demais. Eu sou o pai mais feliz do mundo.
- Eu nunca tive um filho.
- Um dia você vai ter, Flávio. Um dia você vai ter.
- Que nome você acha que eu devo dar?
- Para seu filho?
- Não. Para o meu livro, Felipe.
- Ah, tá. Não sei, Flávio. Você disse que ele fala sobre amor, né?
- É.
- Sei lá. Você sabe que eu nunca fui bom nessas coisas, né?
- No amor?
- Não. Em títulos, Flávio. O escritor da escola sempre foi você, lembra?
- É. É mesmo, né?

Felipe visitava Flávio uma vez a cada seis meses, pelo menos. Não era uma tarefa fácil para Felipe sair do trabalho e ir para um sanatório visitar seu grande amigo. Ele ia pelos velhos tempos. Mas era complicado encontrar Flávio naquela situação – sempre tão alheio a tudo e vivendo num mundo particular. Felipe queria que Deus mudasse tudo e que aquela tarde de domingo de 1993 nunca tivesse existido. Mas Deus nunca mudou nada e, também, nunca ninguém descobriu os motivos da loucura de Flávio. Nem sua família, nem a namorada Carla, nem os amigos e nem os médicos. Tudo se tornou um mistério. O fato é que aquele jovem alegre e que queria ser escritor nunca mais foi visto escrevendo uma linha se quer.

- Oi, Pedro.
- Oi, Felipe. Visitando o Flavião?
- É. Vim dar um abraço no meu camarada.
- Valeu, cara. A gente que cuida dele todo dia sabe o quanto você gosta do cara. Amizade é isso, viu? Acho bonito pra caramba.
- Ele disse do livro de novo, Pedro. Ele tem escrito alguma coisa?
- Tem nada, Felipe. Eu nunca vi ele escrever uma palavra se quer.
- Eu imaginei. E ele vive dizendo que só falta o título, né?
- É. Ele diz que o livro está pronto, mas está sem título. Sabe o que eu acho? O livro está dentro da cabeça dele, cara. Está tudo lá. Bagunçado. Misturado. Mas está tudo lá. Nesse mundo não existe gente louca – só um pouco confusa, você está me entendendo?
- É. Deve ser isso mesmo, Pedro. Eu vou indo. Cuida bem do meu amigo, aí.
- Pode deixar. O Pedrão resolve tudo por aqui. Vai com Deus, Felipe.

Nota do autor: no último 15 de novembro, quinta-feira, por volta das 23h00, o corpo de Flávio foi encontrado caído no banheiro de seu quarto, no Sanatório Reflexão e Paz. A morte repentina e sem causas aparentes do jovem de 30 anos surpreendeu a médicos e enfermeiro da clínica. No entanto, a maior surpresa mesmo foi encontrar, ao lado de seu corpo, um calhamaço de 350 páginas, escritas a mão, e trazendo na primeira página o título: A LOUCURA NUNCA ME IMPEDIU DE AMAR.





domingo, 11 de novembro de 2007


Mulheres: não sejam homens!

Pensei de supetão no título desse texto. Mas acredito que se Woody Allen ou Domingos de Oliveira fossem refletir sobre o mesmo tema, eles, com certeza, vomitariam o mesmo título. O mundo mudou muito, Sr. Fábio de Lima. Não canso de repetir isso para mim mesmo, todos os dias. Algumas coisas mudaram para melhor e outras para pior. Não questionemos os fatos, não agora, caro leitor amigo do Comunique-se. Para pior eu poderia citar um milhão de exemplos. Para melhor eu não me lembro de nada, no exato momento, mas lembraria se o Natal já tivesse chegado. Papai Noel faz a gente enxergar o mundo sempre mais bonito.

Semana retrasada estive comendo uma pizza com 3 amigas. Era véspera de feriado e não tínhamos pressa de chegar em casa. Chovia muito em São Paulo. O trânsito estava todo parado. E a gente jogando conversa fora na mesa de um restaurante. Só eu de homem na mesa. E minhas amigas filosofando sobre namoros e casamentos. Elas dizendo o quanto casamento não resta e todas essas coisas que as mulheres se acostumaram a dizer nos tempos recentes. Atualmente muitas mulheres fogem do casamento assim como o diabo sempre fugiu da cruz.

Eu, perplexo, não queria discordar de minhas amigas. Eu só queria entender o que aconteceu para as pessoas pensarem assim. É óbvio que antigamente a mulher casava por amor e tornava-se, muitas vezes, dependente do marido, infelizmente. Mas as mulheres conseguiram, com o passar dos anos, uma valorização pessoal e profissional que não tinham antigamente – embora merecessem desde sempre. Isso fez que a mulher pensasse na utilidade de um marido como a mesma utilidade de um vibrador, tão somente. A mesma não, o vibrador não ronca nem deixa a tampa do vaso sanitário levantada – portanto, o vibrador é mais útil e melhor comportado. Se eu concordo com essas teorias? Vamos adiante.

Há quem diga que se casamento fosse bom não necessitaria testemunhas para comprovar o fato. Outras pessoas dizem que morar junto basta e toda a liturgia que envolve um casamento em igreja não passa de mera formalidade ou bobagem pura. Olha, veja bem, eu tenho as minhas dúvidas, mas vamos adiante. Namoro também já é visto como algo ultrapassado por muita gente, incluindo muitas das mulheres que conheço. Ficar é tão mais fácil e cômodo. Então, para que ter um compromisso sério com uma pessoa quando se pode ficar com duas ou três ou mais e ser feliz do mesmo jeito – pensam algumas pessoas e, talvez, você pense assim também, caro leitor amigo.

Eu sou um entusiasta e fiel defensor da felicidade. Acredito que o casamento faça parte disso. Mas respeito os que pensam o contrário. No entanto, o que me deixa com uma pulga atrás da orelha é que nossos discursos, a favor ou contra o casamento, estão muito coerentes, muito pragmáticos, muito bem argumentados e, desde que me conheço por gente, felicidade e amor não têm toda essa lógica que cuspimos com palavras. A gente nunca sabe direito por que ama tal pessoa – simplesmente ama-se e pronto. Então, naquela mesa de restaurante, escutando minhas amigas falarem como homens ou, pelo menos, como o pensamento machista que sempre boa parte dos homens defendeu peremptoriamente – fiquei e ainda fico confuso. Não sei onde concordo e onde discordo de tudo isso.

O amor tornou-se um sentimento vingativo nas últimas décadas. Existe até as pessoas que matam e colocam a culpa de sua fúria no amor. Algumas traem e dizem que o fizeram por amor ao próprio namorado (a) ou esposo (a). Perceba, caro leitor amigo, que meu texto de hoje não tem uma coerência entre as idéias, entre os argumentos defendidos ou expostos. Note que eu não sei dizer o que está certo ou errado no amor, nos namoros e, ou nos casamentos. Entenda que essa falta de lógica não é própria de mim, como escritor, nem de você, como leitor. O que está acontecendo aqui tem a ver com o tipo de assunto que estamos a pensar. Eu não tenho respostas convincentes e minhas amigas, sábias, mulheres independentes, bonitas, inteligentes e cultas, também não têm. Você que me lê agora é a favor ou contra o casamento? Vamos adiante e encerremos, em breve.

Mulheres: não sejam homens! pode ser uma crônica ou um livro ou um filme ou tudo isso. Sentimento, seja de amor ou ódio, é algo que o ser humano não entendeu ainda. Talvez por isso o sentimento ainda seja algo tão mágico. Mágico sim. Você não concorda? Vamos adiante. Eu só sei de uma coisa – falando agora como homem e não como um "contador de histórias" – nós homens sempre fomos muito insensíveis e tolos. Mesmo os homens com mais sensibilidade têm uma dificuldade tremenda de dizerem o que verdadeiramente sentem. Portanto, mulheres – minhas amigas ou não – não sigam nosso exemplo.

Mulheres, quando o assunto for amor, sejam como sempre foram. Vocês nunca estiveram erradas. Nós, homens, que sempre fomos tolos ao ponto de achar que amor era sinônimo de feminilidade. Amor é humano e todo ser humano deveria amar do instante que acorda ao instante que dorme. Sem pausas e sem nenhum tipo de porém. Namoro e casamento fazem parte do amor. É bom ou ruim? Não sei. Nem cabe a mim julgar, nem a você e nem a ninguém. Naquele dia, do restaurante, das minhas amigas filósofas, depois que mais ouvi que falei, como sempre, fui embora sonhando com o dia em que homens e mulheres não disputarão nada, mas compartilharão tudo.

Deus e o pipoqueiro

No último feriado, eu andava pela avenida Anhanguera, no centro da cidade de Goiânia, achando ruim o calor forte e achando ruim mais um monte de coisa. Foi quando avistei um pipoqueiro. Eu faminto e o comércio todo fechado. Eu turista e ninguém para pedir informação. Então, não teve jeito, na falta de comida de verdade, me rendi à pipoca. Não que eu seja fã dessa "iguaria", muito pelo contrário, mas fome é fome, e ponto final.

- Uma pipoca, por favor.
- A alma é visível ou invisível?
Eu pensei que o pipoqueiro não havia entendido o que eu falara. Como não custa nada repetir e, se possível, ser mais didático.
- O senhor pode me vender um pacote médio de pipoca?
- Existe vida após a morte?

Aí a situação se complicou. O pipoqueiro parecia estar vivendo num outro mundo ou estar me gozando, sei lá.
- O senhor não quer me vender a pipoca não?!
- Existe alguém mais poderoso no universo que o próprio homem?
Então, eu desisti e virei as costas para o ambulante metido a filósofo e sai andando. Mas aí o pipoqueiro gritou.
- Moço, o senhor quer com manteiga ou sem?
Eu respirei fundo. Lembrei da fome e do comércio fechado. Voltei em direção ao indivíduo com meu sorriso amarelo no rosto.
- Com manteiga, por favor.
No que de pronto ele respondeu de forma bem séria.
- Saindo uma pipoca média, com manteiga, e caprichada.

Enquanto ele mexia a pipoca, antes de colocá-la num pacote, comentou estar pensando muito em Deus ultimamente. Eu lhe dei outro sorriso amarelo.
- Que bom.
O homem, no exato momento, perguntou qual era minha religião e, antes que eu tivesse tempo de resposta, voltou a falar.
- Não tem importância. Todos caminhos levam a Deus, né?

O senhor pipoqueiro, de cabelos brancos, como neve, e o rosto bastante bronzeado, mexia a pipoca para um lado e para o outro, mas nada do meu pacote ser entregue. Pensei em desistir de novo, mas, de repetente, percebi que o letreiro da loja, também fechada, atrás do pipoqueiro, marcava Além Da Vida, e com letras estilizadas – um letreiro bonito. Foi aí que relaxei e esperei o cara parar de mexer aquela pipoca e servir a minha janta. Sim, caro leitor amigo do Comunique-se, aquela pipoca com manteiga seria minha janta de sexta-feira à noite.
- Você acha que Deus criou o mundo em 7 dias mesmo?
O cara era estranho, mas, como de perto ninguém é normal, resolvi entrar na dança e conversar com o maluco pipoqueiro.
- Olha, eu acho que ele fez o mundo em apenas 1 dia. Mas como ele é muito modesto nunca afirmou isso para que os outros não pensassem que ele estava mentindo ou que o achasse prepotente – essas coisas...! Então dei uma gargalhada achando meu comentário bastante espirituoso, mas o pipoqueiro estava sério e continuava mexendo a pipoca. Os segundos que seguiram foram de total silêncio da minha parte e da dele.

Só depois de uns 15 segundos bem constrangedores o homem sorriu e percebi não haver nenhum dente em sua boca. O pipoqueiro era desdentado. E, depois de sorrir, falou que eu deveria estar com a razão – embora ele nunca tivesse parado para pensar com calma no assunto criação do mundo.
- Faz tanto tempo, né?
Foi aí que eu rompi meu silêncio.
- O senhor pode colocar a pipoca logo no saquinho? Estou com muita fome.
- Claro! Por que não disse logo?!

Foi aí que ele me deu um saco de pipoca do grande e de forma muita simpática me deu direito a uma promoção.
- Eu vou te dar uma pipoca grande pelo mesmo preço da média. Já estou indo embora e essa é minha última venda de hoje.
Eu paguei a pipoca e agradeci ao pipoqueiro. Depois caminhei em direção a uma pracinha que havia ali do lado. Sentei no banco da praça e achei aquela pipoca, salgadinha e com manteiga derretida, uma delícia. Eu diria até que foi a melhor pipoca que eu já comi em minha vida. E sentado ali, sozinho, me alimentando, longe de casa e longe de amigos e conhecidos, olhei em direção ao pipoqueiro, mas, estranhamente, não havia mais ninguém ali. Olhei para os lados. Observei todas as ruas e calçadas próximas. Mas nada. Nenhum sinal do homem. Olhei para a fachada da loja e o letreiro estava lá, do mesmo jeito, Além Da vida. Então, acabei de comer minha pipoca e fui embora. Naquela noite pensei muito sobre Deus e o pipoqueiro. Mundo estranho o nosso. Vida estranha a nossa.

domingo, 28 de outubro de 2007


Missa de sétimo dia

Limpei os sapatos, com as sujeiras das ruas, no tapete. Respirei fundo, fiz o sinal da cruz, e entrei na igreja. Hoje eu começo pelo fim, caro leitor amigo do Comunique-se. E quero acreditar que, muitas vezes, o fim é só um recomeço.

Eu nunca gostei de hospital. Eu nunca gostei de velório. Eu nunca gostei de enterro. E por evitar minha presença nesses tristes momentos, eu nunca havia estado numa missa de sétimo dia. Mas, como tudo na vida tem sua primeira vez, dia 26-10-2007, sexta-feira, às 19h30, estive na missa em homenagem ao meu padrinho, Pedro das Dores Costa.

No dia 20-10-2007, um sábado, deixei minhas frescuras de lado e fui ao seu velório. Eram 16h00. O corpo foi enterrado às 18h00. Ainda fazia sol em São Paulo. O dia estava muito bonito, mas me parecia triste. As pessoas estavam silenciosas. As palavras não diziam o que poderiam dizer. Eu olhei para aquele caixão, com um corpo imóvel, e lembrei do olhar de discordância dele, meu padrinho, no hospital, na semana anterior. Realmente eu não o visitara em casa.

É que no dia 14-10-2007, um domingo, às 11h00, eu já deixara minhas frescuras de lado e fora visitá-lo no hospital. Ele, aos 61 anos, padecia de um câncer no pulmão. Mais uma vítima do tabaco. Fazia meses, não, fazia anos que eu não o via. Conversamos por uns 10 minutos. Talvez um pouco mais. Conversamos sobre meu novo trabalho. Conversamos sobre futebol. Conversamos, mesmo quando não nos falamos. E ao sair do hospital falei que o visitaria em casa, brevemente. Ele concordou com a cabeça, mas discordou com os olhos.

Seis anos atrás, minha madrinha já havia falecido num acidente de carro. Na época fui informado depois do enterro e, com minhas frescuras reinantes, não fui à missa de sétimo dia. Ela também era uma pessoa adorável. Ambos eram. Há quem não tenha sorte com padrinhos. A minha sorte foi abundante nesse caso. Eu tive os melhores padrinhos do mundo – pareciam anjos tamanha bondade e carinho que emanavam.

Quando eu já era adolescente, meus padrinhos ainda passavam na minha casa, todo 09 de dezembro, para me dar parabéns por mais um aniversário. Era uma regra. Eu fazia aniversário e esperava eles me visitarem. Eles sempre me visitavam. Todo ano a mesma coisa. Eu, tolo, como todos jovens apreciam ser, nunca soube as datas de aniversário deles. Eu nunca dei parabéns a eles por nada. Hoje, mesmo que tarde, chegou a hora de eu parabenizá-los. Hoje, mesmo que tarde, chegou a hora de eu dizer que os amava. Hoje, mesmo que tarde, ainda é o momento para agradecer.

É que quando eu era criança, nos meus aniversários, meus padrinhos cantavam Parabéns pra Você e me ajudavam a apagar as velinhas que meu assopro fraco de criança não dava conta. Eles me traziam sempre uma lembrança embrulhada em papel de presente todo colorido. Eles sorriam, me abraçavam e me beijavam. Eles me tratavam como filho. Eu era mais um filho e, assim, sempre fui. O ser humano é bobo, e como todo bobo, vive a vida sem agradecer. Eu sempre fui um ser humano. Fui bobo demais e, por algum motivo que desconheço, nunca fazia uma simples ligação telefônica ou mesmo uma visita a eles.

Mas quando eu era bebê, meses depois de nascido, fui batizado e fui carregado no colo por meus padrinhos. Fui beijado e amado desde aquele momento. Eu tenho ainda as fotos do meu batizado, já amareladas pelo tempo. Eu tenho as lembranças desse momento documentadas. Eu tenho tudo, embora meus padrinhos já não estejam mais aqui. Acho que lá no céu eles devem estar comentando que 09 de dezembro está chegando e que seu afilhado merece mais um monte de beijos e abraços. Mas, dessa vez, eu não vou esperar 09 de dezembro para dizer OBRIGADO, OBRIGADO e MUITO OBRIGADO!
Sai da igreja com os sapatos, o coração e a alma limpos. Ame, caro leitor amigo do Comunique-se. Mas, sobretudo, diga para as pessoas que você ama o quanto você as ama. E, de preferência, diga com elas ainda vivas.

Obs: nesse 28-10-2007, domingo, às 10h03, com amor e carinho, para Beny Ribeiro Costa e Pedro das Dores Costa, do seu, sempre, afilhado Fábio de Lima.

Procura-se namorada III

Na vida, nunca conheci nada que se repetisse e o três fosse melhor que o um ou o dois. Eis aqui meu desafio. Mas eu o recuso. Já informo, desde agora, que minha procura por namorada, através do Comunique-se, acabou. Se encontrei quem procurava? Não sei. Na verdade, continuo solteiro. Recebi muitos e-mails. Cheguei a conhecer uma garota incrível. Entre várias virtudes, ela toca violino. Ela me disse que ainda está aprendendo – mas eu prefiro imaginá-la tocando seu violino e sorrindo, sorrindo, sorrindo para mim.

O que fiz nestas últimas semanas foi me despir. Sim, isso que você acaba de ler, caro leitor amigo do Comunique-se. Estive pelado durante esse tempo. Sabe por quê? Não é possível se trocar de roupas já vestido. Se possível, não é viável. Como desejo um grande amor para minha vida, tive de despir meu coração e despir, também, minha alma. Alguns me condenaram por colocar um "anúncio" no Comunique-se. Mas – como diria Edith Piaf – Non, Je Ne Regrette Rien.

Agora ainda estou só. Falta uma boa companhia para assistir ao novo filme do Hector Babenco: O Passado. Eu queria ir à praia no próximo final de semana, mas falta um belo sorriso ao meu lado. Tenho um jantar para ir na sexta-feira, mas também não me sentiria bem indo só. Gostaria de convidar a garota do violino, mas receio que ela não aceite. Irei pensar com calma nas próximas horas. Só sei que não tenho tempo a perder e, se quero ser feliz e fazer alguém feliz, tenho que correr riscos.

Neste 23 de outubro de 2007 eu me declaro livre para amar! Parabéns! De hoje em diante, o passado estará guardado com carinho nas lembranças. Meu presente, escrevo em cada inspiração e expiração. Meu futuro? Talvez seja ao lado da garota do violino. Talvez não. Bem, meu futuro principia hoje e só terminará no dia que a dor tiver mais forças que a alegria. Viva à Edith Piaf! Viva à garota do violino! Viva à Fábio de Lima!

(Non, Je Ne Regrette Rien)

Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo me é igual!
Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!
Com minhas lembranças
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!
Varridos os amores
E todos os seus "tremolos"
Varridos para sempre
Recomeço do zero.
Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo me é bem igual!
Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!

sábado, 13 de outubro de 2007


Procura-se namorada (II)

Depois da coluna da semana passada, Procura-se namorada (I), fiquei preocupado com os desdobramentos dessa história. Recebi muitos e-mails. Para ser exato, foram 600 durante toda a semana. Para falar a verdade, foram apenas 3, mas, como não gosto de números ímpares, arredondei para 600 mesmo. De duas, uma: ou meu texto foi uma merda ou a foto que está exposta, junto a ele, está uma merda. Ainda existe a possibilidade das duas alternativas estarem corretas. Ai, Fábio, que horror (pensa a amiga leitora)! Já o amigo leitor pensa: você é feio mesmo, porra! Se fodeu (ainda dá uma gargalhada e me chama de palhaço, ao terminar de ler o texto)!

Eu não sei o que houve. Esperava receber mensagens de mulheres maravilhosas dizendo que aceitavam não só namorar comigo, como, também, casar imediatamente. Doce Ilusão. Lembro ao caro leitor amigo do Comunique-se que, no ano passado, eu já havia pedido uma namorada em casamento (e ela aceitou), através do espaço Literário (Pedido de casamento). Por que não estou casado? Ela desistiu depois de um tempo. Disse que não me amava e o tempo provou que não me amava mesmo – mas isso é outra história. Voltemos ao namoro na TV ou, melhor dizendo, namoro no Comunique-se.

As 3 garotas que me mandaram e-mail foram diretas ao assunto. A primeira delas disse que não acreditava em uma palavra do que escrevi. Falou que eu deveria ser um homem bem galinha e que se pensava que toda a lorota que escrevi iria fazê-la ir para a cama comigo, eu poderia tirar o cavalinho da chuva. Disse, também, que não acreditava em homem nenhum nesse mundo. Respondi o e-mail com o telefone do meu analista. Ele tem feito grandes progressos comigo e, talvez, possa ajudar essa menina (essa louca!).

A segunda me parabenizou pela sensibilidade, mas disse que não se interessou pelo meu perfil. Só me desejou boa sorte. Ainda assim, perguntou-me se havia outros homens gentis como eu pelo mundo. Respondi o e-mail com o telefone do André Falavigna (Barba!) só para sacanear a menina. Já que não me deu bola, eu chutei o balde. O Falavigna é o cara mais grosseiro que conheço. Eu diria que ele é um Jece Valadão do século XXI. Já que a menina não quis nada comigo, eu aprontei com ela. E aprontei com o "Barba" também, pois, pelo que sei, ele é casado e feliz, e eu joguei um problemão para cima dele. Dane-se! Amigo só serve para essas coisas mesmo e para se pedir dinheiro emprestado, é claro!

A terceira disse, logo de cara (sem oi ou bom dia), que minha foto não lhe causara nenhuma atração, embora gostasse de homens intelectualizados. Disse também que detestava homens de cavanhaque, e quando eu respondi o e-mail dizendo que estava sem cavanhaque, no momento, ela me disse que não tinha jeito. Falou que pela foto já sabia não haver química alguma entre a gente. Bem, para essa eu respondi o e-mail com o telefone da sede do PSDB, em São Paulo, já que ela ama intelectuais, e com o telefone da ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química). Na hora de assinar o e-mail, coloquei meu nome e, ainda, a mandei para a puta que pariu. Mal-educado eu?! Namora com ela, então! Pode casar com essa P (de princesa)!

Como vê, caro leitor amigo, minha situação está complicada. Fiquei estressado com a repercussão ou falta de, causada pelo meu texto, e pela minha foto. Estou pensando até em falar com o meu editor, ilustríssimo Pedro Bondaczuk, para mudar minha foto por uma do Brad Pitt e meu texto por um do Paulo Coelho. Porra, agora vou apelar. Não tenho mais nada a perder. Como diria Vicente Mateus, quem sai na chuva é para se molhar mesmo! Bem, agora ou vai ou racha. Eu quero ver o circo pegar fogo só para eu levar a trapezista para minha casa.

A verdade é só uma: a diretoria do Comunique-se já está de saco cheio dos meus textos e de mim. Isso aqui para nós, caro leitor amigo. Que ninguém nos ouça. Confidencial, entende? Os diretores já me disseram, 2 vezes, que meus textos não tem nada a ver com a proposta do site. Na verdade, disseram 177 vezes, mas, resolvi arredondar para um número par. A Miriam Abreu, editora-chefe, me disse, outro dia, que os meus textos são "patifaria pura". Ela chegou a me chamar de "charlatão das letras". Então, é assim: ou eu arrumo uma namorada, através do comunique-se, ou subo o número de acessos do site em, pelo menos, 100%. É isso ou rua! Já determinaram. O fato é que estou fodido e solteiro, solteiro e fodido – e na iminência de ser mandado embora do Comunique-se.

Mas não há de ser nada. Sou louco, mas estou vivo. Sou feio, mas sou charmoso. Sou burro, mas sou cara de pau. Sou pobre, mas sou artista. Sou triste, mas sou poeta. E para vocês, amigas leitoras do Comunique-se, bonitas e solteiras, não esqueçam que, para ser feliz, muitas vezes, é preciso se expor ao ridículo. É que, para ser feliz, muitas vezes, é preciso acreditar no impossível. Saibam que, para ser feliz, muitas vezes, é preciso ser mais que um sonho guardado no peito. Eu sou apenas quem eu sou, Fábio de Lima, mas na ânsia de ser sempre melhor. Beijos de um louco que ainda acredita no amor: fabdelima@uol.com.br .

sexta-feira, 12 de outubro de 2007


Procura-se namorada (I)

O que dizer da vida? Se eu falar que ela é feia, estarei mentindo. Se eu falar que ela é bonita, estarei mentindo. Tenho pensado tanto, ultimamente. Sento numa poltrona antiga, que tenho no meu quarto, e imagino muitas coisas. Nem sei se vale a pena ficar pensando tanto. Meu pai diz que pensar demais deixa o homem velho. Ele fala que faz cair os cabelos. Minha mãe diz que aquele que pensa muito não faz nada. O fato é que vou pensando agora e sempre.

E tenho pensado no amor. Tenho pensado muito mais que amado. Ainda sentado na poltrona, limpo as unhas da mão esquerda com as unhas da mão direita. Nojento? Não sei. Sobre isso não tenho pensado. Mas, enquanto limpo as unhas, imagino como será a mulher que o futuro me reserva para envelhecer ao meu lado. Sim, por que não aceito a eterna solidão e imagino que essa mulher esteja perto, porque, às vésperas de completar 31 anos, meus cabelos ainda não começaram a cair, como profetiza meu pai, mas já embranquecem.

Não sei se ela será jornalista ou publicitária ou estudante ou advogada. Não sei de nada. Sigo pensando. Bem que ela poderia ser baixinha, adoro mulheres baixinhas. Ela tem que ser sensível – pois insensibilidade não tolero. Tolerância zero às insensíveis. Ela não precisa ser tão simpática com os outros, porque eu também não sou o cara mais simpático do mundo. Fico pensando ainda que ela tem que gostar muito de cinema. Eu adoro cinema. E tem que valorizar o cinema brasileiro. Eu amo o cinema brasileiro. Cinema de verdade, que fique claro. Seriado da Globo, em sala de cinema, me dá náusea.

Penso também no tamanho do cabelo. Não precisa ser tão grande, mas cabelo curto eu não gosto muito. Os olhos? Ah, os olhos...! Olhar é muito importante. Os olhos da minha futura namorada têm que ser ferozes como um dragão e mansos como um cordeiro. Ela tem que ser geniosa, mas carinhosa. Nunca me interessei por uma mulher que não fosse geniosa. Se for do signo de escorpião ou leão, eu nem preciso olhar nos olhos para saber que é meu número. Mulheres desses signos me encantam, e acabam comigo também.

E seguindo com os pensamentos, lembro que tem de ser culta ou, pelo menos, valorizar a cultura. Inteligência e cultura são indispensáveis à personalidade da mulher que procuro. Não gosto de intelectuais, que fique claro também aqui. Gosto de uma inteligência emocional. Gosto de mulheres que falam sobre cinema, música, teatro, literatura, televisão, e sobre salto alto, maquiagem, novela, praia – tudo com a mesma desenvoltura. Gosto de mulher com jeito de menina e de menina com jeito de mulher.

Você mente? Está fora. Sou um homem sincero e valorizo mulheres que também sejam sinceras. Detesto mentiras. Mentiras brancas? Não sei o que é isso. Para mim, mentiras são mentiras e pronto. Gosto de mulher romântica, porque sou romântico até não poder mais. Estou pensando agora, aqui, sobre bunda. Ah, não venha com moralismo, caro leitor amigo do Comunique-se, bunda também é importante. Mas aqui vale um adendo: minha preferência é mais americanizada e bunda é só uma bunda (uma palavra gostosa de ser pronunciada). Entendeu?

Quando eu penso numa mulher para estar ao meu lado, não penso em dinheiro. Não precisa tê-lo, pois eu também não o tenho. Precisa é ter caráter, afinal, isso o dinheiro não compra. Gosto de mulher com jeito simples e, ao mesmo tempo, sofisticado. Classe se nasce ou não com ela, independentemente daquela outra classe, a social. Um diferencial: saber estacionar um carro. Se isso é importante? Não sei. Mas evitará atrasos nossos em compromissos, porque eu sei dirigir (minha ex-namorada dizia que não), mas estacionar o carro eu não sei mesmo.

Agora as leitoras desse texto devem estar se perguntando: e eu – o que ganho em namorar com você, Fábio? Bem, não sou um príncipe encantado. Mas dentro do meu coração bate um som diferente. Sou sonhador como poucos. Sou sincero ao extremo. Sou um menino de cinco anos e um velho de oitenta e cinco, dentro do mesmo corpo. Aqui no meu pedacinho de mundo os verdadeiros valores ainda existem. Eu não sei se serei o melhor namorado do mundo, mas, em cada segundo, lutarei com toda dignidade para sê-lo. Meu e-mail: fabdelima@uol.com.br.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007


Monopólio da estupidez

A Rede Globo de Televisão não passa de uma produtora de novelas. Ela não é uma TV. O Brasil está sendo enganado. Na semana passada houve a estréia do Record News, o primeiro canal de notícias, 24 horas, da TV aberta brasileira. Na cerimônia de abertura, o proprietário (dono) da Rede Record de Televisão, Edir Macedo, disse que a Record News nasce para acabar com o monopólio da notícia – uma clara referência à Rede Globo.

A Rede Globo monopolista, como é hoje, está com os dias contados. Na opinião desse que vos fala, a Rede Record já consegue ser a melhor Rede de TV do Brasil. Isso não quer dizer muito, pois a programação de nossas TVs é um excremento (uma merda) com raras exceções. A Rede Globo ainda detém a maior audiência e, acredito, que essa realidade vá demorar mais uns 5 anos para ser mudada. O brasileiro se acostumou com a Globo e o processo de descoberta e valorização das outras Redes será lento.

A Rede Globo tem, atualmente, como principal finalidade a produção de novelas. Por isso a chamo de uma produtora de novelas e não de uma TV. Ela faz uma novela no horário das 18h00, outra no horário das 19h00 e, por fim, no horário das 20h00. Esses horários já foram mais rígidos um dia, mas hoje são apenas referenciais. Mas o fato importante é que, fora essas 3 novelas, ainda tem a reprise, de uma novela antiga, no começo da tarde. Não bastasse, existe um programa de bastidores das novelas – também no começo da tarde.

A Rede Globo tem também seus telejornais. Logo cedo tem o jornal local. Na hora do almoço outro jornal local. Posteriormente um jornal esportivo. E depois o telejornal nacional da tarde. Quando chega a noite, a emissora número 1 do Brasil (carioca) exibe um jornal local intercalado por novelas e, depois, exibe seu telejornal nacional da noite. No final da noite – beirando a madrugada – exibe outro telejornal nacional. Muitas das notícias se repetem em todos os jornais, as análises das notícias não existem ou são direcionadas (manipuladas). Ainda assim, o povo julga-se informado.

A Rede Globo também tem desenhos pela manhã. Esses desenhos, obviamente, não são feitos pela Globo. Antes dos desenhos tem um programa feminino. Nesse programa feminino sempre há espaço para receber atores das novelas da Globo. Depois da última novela da noite existem programas – muitas vezes humorísticos – que costumam ter boa parte dos atores das novelas da Globo. No domingo, o principal programa da emissora – que dura boa parte da tarde e o começo da noite – tem como principais atrações as entrevistas ou quadros com atores das novelas da Globo.

A Rede Globo tem um telejornal-variedade, na noite de domingo, que de telejornal tem pouco e de variedade também. O programa tem muitos quadros que tem como finalidade principal expor os atores das novelas da Globo. Na manhã de domingo existe esporte. No principio da tarde, ainda de domingo, existe um humorístico que recebe, quase sempre, como convidados, atores das novelas da Globo. Eu esqueci de dizer lá em cima – mas lembro aqui – que durante a semana ainda existe, no final da tarde, uma novela voltada para o público jovem e protagonizada pelos, também jovens, atores das novelas da Globo. Portanto, são cinco novelas por dia.

A Rede Globo tem ainda um programa, no sábado, no qual uma das principais apresentadoras da emissora passeia e joga conversa fora com atores das novelas da Globo. Durante a semana tem um programa voltado para o público jovem, de madrugada, que recebe sempre atores das novelas da Globo. Não é raro também que o principal talk show da TV brasileira receba, no fim da noite e começo da madrugada, atores das novelas da Globo. Ou seja, a programação da Rede Globo de Televisão não passa de novelas. Tudo ou (apenas) 90% da programação está relacionado às novelas da Globo.

A Rede Globo ainda tem ajuda das Redes amigas (concorrentes). Acho muito estranho (estúpido-burro-ridículo) que as outras TVs passem boa parte de suas programações falando sobre os atores e sobre as novelas da Rede Globo. Acho uma cretinice enaltecer repetitivamente a programação da concorrente – mesmo que isso dê audiência. Na verdade, eu não acredito na superioridade da Rede Globo como TV e sim na inferioridade das suas concorrentes. Tudo é muito ruim incluindo ou excluindo a Globo.

A Rede Globo tem toda uma empáfia por um único motivo: a TV aberta no Brasil é o monopólio da estupidez, porque, apesar de ser um oligopólio, tem o mesmo rosto e a mesma bunda. Na realidade todas as TVs no Brasil fazem plim-plim, ainda que repudiem isso. Os programas são uma mistura de marketing comercial e marketing pessoal feitos com homens e mulheres que estão no imaginário da população brasileira, como estrelas ou heróis, através das novelas, ou coisas que o valham, principalmente, feitas pela Rede Globo. Menor problema se tudo isso fizesse parte de um contexto, mas não. Apenas isso é todo o contexto.

E para não dizer que não falei das flores, como diria Geraldo Vandré, faço a seguinte pergunta à Rede Record de Televisão: você quer mesmo mudar tudo isso? Eu mesmo respondo para encurtar a palhaçada: obviamente que não! A Record quer apenas inverter a ordem das coisas. Ela que ser a Globo! A briga não é por qual emissora irá oferecer o melhor conteúdo televisivo para a população brasileira, mas sim para decidir qual emissora terá mais poder junto ao governo (circo) e mais audiência junto à população (domesticada), seguido de mais investimentos por parte dos anunciantes (capitalistas). Tudo que for diferente disso e você saiba, caro leitor amigo do Comunique-se, informe para mim e também para Deus, pois nem ele e nem eu sabemos de outros objetivos por parte das TVs brasileiras. Eu só vejo um monopólio nessa história (zorra toda) e é o monopólio da estupidez. Abra, pelo menos, um olho, caro leitor amigo, pois em terra de cego caolho é rei.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

POEMA DOS PÁSSAROS

Sobe a lua
Desce o sol
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

O mundo gira
Desata os nós
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Um cão late
O vento chora
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Brilha o céu
O jardim flora
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

O café esfria
A vida ensina
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Corre o tempo
Repete a sina
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Amor é ilusão
A lágrima brota
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Sonhar é fogo
A cor desbota
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Viver a paz
Deus é tudo
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

O sorriso diz
Silêncio é mudo
E eu, POEMA, cantarolando como os PÁSSAROS.

terça-feira, 18 de setembro de 2007


Circo de horrores

- Vai! Corre!
- Atira, atira, atira – porra!
- Vai! Corre!
- Ai! Me acertaram – porra!
- Fodeu! Fodeu!
- Estou sangrando! Ai! Caralho!
- Fodeu! Fodeu!
(MERDA! MERDA! MERDA!)

Faz 30 dias, um pouco mais, um pouco menos (pouco importa), que um filme brasileiro está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos entre os camelôs de DVDs piratas no país. O filme TROPA DE ELITE está bombando, como diz a galera jovem. O novo filme do diretor José Padilha (lembra dele?), aquele que fez o documentário ÔNIBUS 174, um filme de 2002, é uma aula de cinema e, principalmente, uma aula de Brasil. O TROPA DE ELITE só deve chegar às salas de cinema no próximo mês, mas o povo tem pressa e, também por isso, o filme já é um sucesso entre as pessoas que assistiram à cópia pirata.

Quarta-feira levantei às 6h00 e fui do ABC paulista para a 25 de março (maior shopping aberto do Brasil), na região central de São Paulo. Eu queria um DVD pirata. Eu queria o filme TROPA DE ELITE. Estava louco de vontade de assistir esse filme. Ele fala das ações do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), da Polícia Militar do Rio de Janeiro. É uma ficção baseada em fatos reais. O amigo leitor assistiu ao filme CIDADE DE DEUS? O filme do Padilha está na mesma linha do filme do Fernando Meirelles e que chegou, até, a disputar Oscar. É um cinema visceral e violento até não poder mais.

Na 25 de março encontrei fácil o filme. Como disse acima, o DVD é sucesso de vendas no mercado informal. Filme pirata ou genérico (para quem gosta de palavra bonita), faz sucesso no Brasil por vários motivos. Eu sou fã deles pelo baixo preço. Depois de comprar o filme por, módicos, 2 reais, consegui assisti-lo ainda na manhã da própria quarta-feira. Eu tinha pressa, também, e gostei do que vi. O filme é bárbaro, no melhor sentido da palavra. Depois de assisti-lo entendi o interesse do povo por esse filme nacional. É a nossa realidade. É a nossa guerra civil mostrada através de um longa-metragem.

O capitão do BOPE (Nascimento), interpretado muito bem pelo ator Wagner Moura, deseja deixar o batalhão e levar uma vida mais tranqüila. No entanto, precisa antes encontrar um policial preparado para assumir o seu lugar. É claro que o filme vai muito além dessa história e mostra a violência e a corrupção que policiais e traficantes cariocas protagonizam, diariamente, em busca, apenas, da sobrevivência. O Rio de Janeiro tem suas particularidades, até geográficas, mas o que é contado no TROPA DE ELITE assola toda a população brasileira. Todo mundo entende aquela realidade – mesmo que pareça ficção.

Ainda na quarta-feira, já no período da tarde, estava refletindo sobre o filme. Adoro ficar rememorando imagens e diálogos de um bom filme horas depois de assisti-lo. Fico assimilando e interpretando tudo com mais calma. Mas fui atrapalhado nesse momento de reflexão. O telefone tocou e era o meu melhor amigo, o crítico de cinema, Jairo Lavia. O cara estava puto da vida. Perguntou se eu tinha visto a briga, ocorrida em Brasília, envolvendo deputados e seguranças do Senado (era o dia D do caso Renan Calheiros). Eu disse para ele que não estava acompanhando nada daquilo. Expliquei que estava fazendo outras coisas, sem entrar em detalhes.

Depois que desliguei o telefone fiquei pensando o quanto o Brasil está desfigurado. O Jairo havia dito que Brasília (leia Câmara e Senado) é um circo de horrores. Fiquei pensando nos políticos, na miséria brasileira, no tráfico, na violência de policiais e bandidos (e vice-versa!), no BOPE, no cinema brasileiro, na pirataria, e em muitas outras coisas. Mais tarde vi nos noticiários que Renan Calheiros havia sido absolvido. Então, cheguei a conclusão que meu amigo Jairo está errado. Se fosse só Brasília um circo de horrores a gente daria um jeito. Poderíamos até mandar o BOPE fazer uma incursão à capital federal. Porém, o problema é muita mais grave. O circo de horrores não é só Brasília. O circo de horrores é todo o Brasil.

- Vai! Corre!
- Atira, atira, atira – porra!
- Vai! Corre!
- Ai! Me acertaram – porra!
- Fodeu! Fodeu!
- Estou sangrando! Ai! Caralho!
- Fodeu! Fodeu!
(BRASIL! BRASIL! BRASIL!)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Bobagens no gelo

O programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, exibe um quadro chamado Dança no Gelo. Nele “artistas” globais (ou não) passam dias treinando patinação no gelo e, no final de semana, exibem uma coreografia musical que é avaliada por um júri. Ou seja, é uma competição. Não sei o tempo exato que esse quadro faz parte do programa, mas pelo que escuto dos críticos de TV, ou fofoqueiros de plantão, como preferir, o quadro é um sucesso. Fico intrigado: vivemos num país tropical onde o gelo sempre foi usado para ir dentro da caipirinha apenas, mas o Dança no Gelo traz outra utilidade para a água em estado sólido.

Concordo com você, caro leitor amigo, que pensa não haver nada demais em um programa de entretenimento mostrar uma competição de dança entre “artistas” – em que o palco seja uma pista de patinação no gelo. No entanto, discordo da importância que as pessoas envolvidas dão ao evento. Já escutei “artistas” falarem que a competição mudou suas vidas. Provocou o rompimento de limites. E um monte de idiotices que, no momento, para minha felicidade e paz interior, não me lembro. E é óbvio que essa atração dominical é exibida para os telespectadores como um bem para a humanidade.

A briga por audiência na televisão, nos últimos anos, tem feito que algumas pessoas percam a noção do ridículo. A população brasileira parece interessada no grotesco mesmo. O bonito hipnotiza o telespectador. Corpos bem cuidados, fama e dinheiro são requisitos para alguém se tornar um “artista” no Brasil. Não importa se esse “artista” não tiver talento algum. Tendo, pelo menos, um dos três requisitos que citei acima – essa pessoa torna-se “artista” e pronto. Inteligência, cultura e originalidade são palavras com significados vagos na interpretação do telespectador. O Brasil está embrulhado para presente e exposto na tela de uma TV. O que há dentro desse presente é o que menos importa ao seu povo.

Então, fico olhando para aqueles “artistas” sorridentes e esbaforidos do Dança no Gelo. Eles sentem-se heróis. São vitoriosos em um país de miseráveis. Homens e mulheres invejados por seus semelhantes. Todos expostos numa vitrine de ilusão. E no meio do programa o apresentador Faustão faz um questionamento que mudará a vida de todos. Os “artistas” pensam profundamente antes de exprimirem suas opiniões. É preciso uma análise profunda para não decepcionarem o apresentador e seus telespectadores. Faustão quer saber quem matou uma personagem da novela. O país fica em silêncio com a mesma dúvida e a tola curiosidade. Mas, os “artistas” não podem ou não sabem dizer nem isso.

Dança no Gelo é um retrato do país onde vivo: superficial e medíocre. De uns tempos para cá, o ato de pensar transforma alguém em ultrapassado e chato. Todo mundo tem aquele amigo mais introspectivo e que é visto como sem graça pelo restante da turma. O Brasil não quer ser um país sem graça. Ele valoriza o carnaval, o futebol e a televisão. O país parece sempre estar em férias. Todo ser humano sonha com férias. O Brasil torna-se, assim, o paraíso. O lugar perfeito para se viver, mesmo que seja somente através da telinha. Acredito que, para deixarmos de ser humanos, e nos tornarmos BURROS (com letras garrafais), basta um controle-remoto na mão, e um domingão à tarde, na frente de uma TV. Que pena: estamos nos desmanchando como gelo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007


Solidão dos erros

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
O cigarro acabou e a aguardente também. Sentado nessa estrada poeirenta eu só penso na vida e nos problemas. A cabeça dói. Minhas mãos calejadas apodrecem. Nenhum carro cruzando a estrada. Nenhum barulho de animal que eu possa escutar. Amigos? Não sei onde. Inimigos? Estão longe. Aqui, somos apenas eu e você.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
A vida me passou a perna nessa manhã de domingo. Deus não pôde me ajudar. Eu pensei que fosse adulto e o mundo me mostrou que ainda sou uma criança. Fecho os olhos para enxergar tudo que aconteceu comigo. O tempo não me fez esquecer de nada. Os meus cabelos ralos e brancos caem num simples passar dos dedos. Aqui, somos apenas eu e você.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Ouço meus soluços e engulo uma água salgada que acho vir do peito. Algumas coisas a gente erra, mas não pensei que tudo pudesse dar errado. Olhando o sol que arde voando pelo vento, eu sinto medo. Sinto um medo que nunca tive em toda minha vida. Olhando o meu presente temo que o fim esteja próximo. Aqui, somos apenas eu e você.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Algumas coisas a gente erra, mas não pensei que tudo pudesse dar errado.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Algumas coisas a gente erra, mas não pensei que tudo pudesse dar errado.


Aqui, somos apenas eu e você.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007


O Carteiro e o Poeta

No último final de semana revi O Carteiro e o Poeta, filme de 1994, do diretor Michael Radford, que conta a história (fictícia) da amizade de um carteiro com o poeta chileno Pablo Neruda, na época de seu exílio, na Itália, nos anos 50. Que filme lindo! Esta foi a terceira vez que assisti ao filme e pela terceira vez me emocionei. Sou um homem emotivo do tipo que não gosta de despedidas e que fala frases de carinho e amor para amigos e amores. Portanto, tenho uma identificação muito grande com esse filme.

Na infância pensei que minha emotividade fosse passar conforme eu fosse crescendo. Na adolescência imaginei que as pessoas adultas seriam mais frias e eu, consequentemente, não seria tão emotivo quando fosse adulto. Já na fase adulta percebi que não tinha jeito e minha sensibilidade de artista não me permitiria ser frio como muitas pessoas conseguiam ser. Foi nesse momento que tomei um susto e, na mesma época, foi lançado o filme O Carteiro e o Poeta.

Daquele momento em diante passei a me perguntar por que algumas pessoas são tão sensíveis e vêem o mundo de uma forma tão complexa, enquanto outras pessoas são tão insensíveis e vêem o mundo de uma forma tão limitada. O que faz uma pessoa olhar para a água que cai da torneira e lembrar do mar – enquanto outra só se lembra da sua sede? O que faz uma pessoa olhar para a comida e lembrar da lavoura – enquanto outra só se lembra da sua fome? Nunca consegui respostas exatas para os meus questionamentos.

Em determinado momento do filme, o carteiro pergunta ao poeta o que ele quis dizer com determinadas palavras. O poeta responde que não saberia explicar de uma forma diferente da que usou em sua poesia. Esse trecho do filme é tão marcante para mim. Na vida fazemos escolhas e, na verdade, por mais que seja óbvio fazê-las de um jeito – fazemos do nosso jeito. Como diria Frank Sinatra, fiz da minha maneira. Não saberíamos fazer diferente. Não seria honesto com nós mesmos fazermos diferente. Somos poetas sem sabermos e a vida não passa de um emaranhado de metáforas.

Sempre amei o cinema. Nele encontrei a vida mostrada nas suas diferentes formas. Foi na sétima arte que percebi que a vida e o mundo não tinham lógica. Toda minha sensibilidade fazia parte da falta de lógica da vida e do mundo e, consequentemente, a insensibilidade de outras pessoas também faziam parte do mesmo contexto. Eu não havia construído a sensibilidade em mim – assim como os insensíveis não haviam construído a insensibilidade neles. Tudo já estava pronto ou veio pronto para nós.

Estou numa fase muito forte de autoconhecimento. De 7 meses para cá parece que comecei a compreender o incompreensível. Tenho conseguido enxergar benefícios no sofrimento. Isso na teoria toda a humanidade consegue, mas na prática só alguns. Dizem que quando você descobre determinadas coisas aqui na Terra você morre. O cumprimento de uma missão torna você desnecessário nesse mundo. Espero não estar morrendo – por que tenho algumas vontades que ainda não foram sanadas. Já o ator Massimo Troisi que fez, brilhantemente, o carteiro, no filme, morreu um dia depois de terminada as filmagens.

Quando eu era mais jovem pensei em ser cineasta. Não o fui porque viver de arte no Brasil é uma loucura e tanto. Além do mais, cinema é uma arte muito cara e eu não tinha condições de começar uma carreira na profissão de cineasta. Mas revendo O Carteiro e o Poeta enxergo nele o cinema que eu faria, caso tivesse me tornado um cineasta. O ser humano precisa ser descoberto pelo próprio ser humano. Deve haver muitas maneiras de se chegar até essa descoberta. Eu escolhi a literatura. Ela é a minha arte. Eu sou o carteiro e eu sou o poeta e, também, sou o espectador. Eu sou humano e essa é uma descoberta que faço – todos os dias – gradativamente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007


Desemprego e falta de idéias

Confesso que essa semana eu não sabia sobre o que escrever. Lembrei do texto que escrevi na semana passada, Jornalismo é brega, e achei que qualquer coisa que escrevesse, agora, seria redundante e sem nenhuma importância. Na semana passada eu queria vomitar e vomitei. Agora, já desempregado e recebendo alguns nãããooosss pelo mercado de trabalho, não via novidade para passar aos meus leitores do Comunique-se. Eu estava fodido e não devia ficar reclamando em espaço público.

Durante essa crise de idéias resolvi sentar na frente do computador e apenas olhar a tela. Nada mais. Aproveitei o silêncio para acender um cigarro (não fumo). Já que segurava aquele troço, entre os dedos, resolvi também colocar uma dose de cachaça em um copo (não bebo). Então, depois de um marasmo grande, cerca de 15 minutos, eu ali parado, como uma múmia, resolvi fazer alguma coisa e, apenas, passei a mão esquerda no meu cavanhaque. O silêncio era necessário.

A tela do word continuava vazia, branca e quieta. Olhei para o telefone e ele também estava quieto. Tirei o fone do gancho para constatar se funcionava. Estava tudo certo com o aparelho. Estava tudo bem com o mundo. Só havia um problema e ele estava naquela sala. O problema do Planeta Terra, naquele momento, era EU! Tive vontade de gritar um palavrão, mas não o fiz. Tive vontade de dar um soco na mesa, mas não o fiz. Tive vontade de morrer, naquele instante, mas DEUS não quis.

É claro que o leitor desavisado vai me achar melodramático. Vai pensar: porra, esse cara está tão mal assim só por falta de trabalho?! Claro que não, leitor amigo. Só fico mal assim quando tem mulher envolvida na história. Essa tristeza toda nem tem a ver com minha falta de dinheiro para pagar as contas e sim com uma dor de cotovelo do caralho. Desculpe-me os leitores puritanos, mas a palavra caralho, nesse parágrafo, fez-se imprescindível. Sem ela não haveria texto.

Na verdade eu nem estava lembrando da falta de trabalho. Aqui no Comunique-se tem vários donos de assessorias de imprensa e algum deles vai, em breve, me oferecer emprego – não é mesmo?! Esse é o lugar que aparece emprego para jornalista, hoje em dia, no Brasil. As redações não contratam mais ninguém. Nas redações cada jornalista faz o trabalho que seria para 4 jornalistas fazerem. Portanto, em cada empresa, que deveria haver 20 profissionais, apenas 5 dão conta do serviço. Outros fodidos que também não reclamam em espaço público, mas são fodidos mesmo.

Voltando ao assunto mulher, eu estava melancólico. Eu amo, eu amo, eu amo (acho que isso é um refrão de música sertaneja). O fato é que eu amo uma mulher que não me ama e isso acaba comigo. Fico chorando pelos cantos, desanimado com a vida. Transfiro essa melancolia para os meus textos. Parece frescura – coisa de gente que não tem o que fazer – mas o negócio é sério. Ser rejeitado pela pessoa que você ama deixa a cabeça confusa mesmo. Você fica mais louco que muito louco que tem internado por aí. Você passa a chamar Jesus de Genésio.

Já havia se passado 45 minutos, desde a hora que sentei na frente do computador. A falta de idéias persistia e o rosto da mulher amada não saia de minha cabeça. Você, amiga leitora, saiba que mulher tem o poder de fazer o que quiser com um homem. Ela pode transformá-lo num vencedor ou num perdedor. Mulher é divina. Mulher é melhor que dinheiro. Mulher é melhor que futebol. Mulher é melhor que dinheiro e futebol juntos. E quando você ama uma mulher e ela te ama, então tudo fica fácil. Não é o meu caso.

Depois de olhar para aquela tela em branco. Depois de olhar para aquele telefone mudo. Depois de olhar no relógio mil vezes. Depois que os sonhos pareciam impossíveis e a realidade cruel, como apenas os sonhos e a realidade conseguem nos parecer, o telefone tocou e era ELA. O meu amor havia se lembrado de mim. Ela perguntava no telefone se estava tudo bem comigo. Caro leitor amigo do Comunique-se, desemprego e falta de idéias eu tiro de letra, mas esperar a ligação da mulher que eu amo me angustia muito. Um abraço e até a semana que vêm!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007


Jornalismo é brega

Sei que algumas pessoas irão ler o título deste texto e quererem comer meu fígado acompanhado de algumas batatinhas e meia dúzia de pimentões. E sabe o que eu penso a respeito? Moralismo é um saco! Os moralistas irão me perguntar o que pode ser considerado brega e o que pode ser considerado chique. Eles irão me questionar o que eu quero dizer com esse título. Aquele papo chato de intelectual-moralista ou moralista-intelectual, sabe?! Eu digo: jornalismo é brega e sem graça mesmo!

Segundo o dicionário Aurélio, breguice é sinônimo de cafonice. Jornalismo é tudo isso. Jornalista é pago para reproduzir os pensamentos alheios. Imparcialidade, imparcialidade, imparcialidade pregam os manuais de redação. Jornalismo não pode ter nariz de cera, jornalismo tem que ter deadline, jornalismo tem que ouvir o outro lado. Jornalista tem que ser inteligente e ter senso crítico. Eu odeio tudo isso e também não gosto de picles! Afinal, jornalismo é repetitivo e jornalista é redundante.

Jornalismo paga mal. Jornalismo defende interesses da própria mídia. Jornalismo defende interesses privados que não os dos jornalistas. Jornalista é um vendedor de um produto chamado pensamento. E por não concordar em vender produtos fantasiados de pensamentos – idéias – conteúdo – sou o mais novo jornalista desempregado do Brasil, a partir do próximo 17-08-2007, iminente sexta-feira. Não fui demitido. Diante das circunstâncias fui influenciado a pedir (uma espécie de) "demissão"! Cumpro (um tal de) aviso prévio e depois pego meu boné e vou embora...!

Jornalismo é profissão para idealista. Jornalismo (de verdade) é uma profissão em extinção como a de sapateiro e maquinista. Jornalista não costuma ter carteira assinada. Jornalista tem glamour, mas tem bolso vazio. A profissão de jornalista é bonita no cinema e na novela apenas. O jornalismo apodrece no leito de uma UTI. Talvez o jornalismo nem exista mais. Todo esse meu texto está falando de um morto que esqueceram de enterrar. A força do dinheiro venceu a força da informação. Comigo não: antes um desempregado que uma prostituta ideológica! Eu sou brega sim, e daí???

domingo, 5 de agosto de 2007


Saudade da escola

Eu nunca pensei que fosse sentir saudade da escola. Lembrar com carinho das aulas chatas de matemática, física e química.. Eu nunca pensei. Mas o mundo dá voltas. Hoje sei que naquele tempo a minha vida era mais fácil. Os meus problemas eram pequenos, comparados aos que tenho atualmente. Não que eu queira voltar no tempo. Sei que não se pode, nem valeria a pena, voltar atrás. Sinto falta, apenas, de ter aproveitado, um pouco mais, de algumas coisas.

Adorava história, mas somente decorava essa matéria e nunca pensei que algumas coisas que estavam sendo contadas, ali, poderiam me ajudar a entender melhor o mundo durante toda a minha vida. Adorava, também, português, mas não tinha paciência em prestar atenção em determinadas regras gramaticais. Sei que foi mais um erro, porque até hoje escrevo por bom senso e, às vezes, algumas regras gramaticais fazem muita falta enquanto conto minhas histórias.

Lembro também, agora, que gostava das aulas de geografia, embora não visse, na época, muita importância nessas aulas. Mas se tem uma coisa que não lembro direito é nome. Não lembro os nomes de meus professores. Também não lembro os sobrenomes de meus amigos e de meus inimigos do tempo de escola. Algo que me impossibilita achá-los no Orkut! Bela merda! Ai, meu Deus, esqueci: alguns leitores não gostam que eu escreva a palavra merda. Agora já foi! O fato importante mesmo é que não tenho contato com ninguém, absolutamente ninguém, do tempo de escola.

Fico imaginando se alguns professores, que já eram velhos enquanto eu estudava, ainda estão vivos. Imagino, ainda, se algumas garotas que eram lindas, com 15 anos, permanecem lindas. Penso se aqueles jovens rapazes que eram folgados, idiotas, mas se achavam o máximo, continuam folgados, idiotas, e se achando o máximo – mesmo depois de tanto tempo. Chego, algumas vezes, a ter vontade de voltar às escolas em que estudei e pedir autorização para andar por pátios, quadras, corredores e salas. No entanto, essa vontade passa rápido e nunca fiz, faço ou, provavelmente, farei isso.

Na verdade, caro leitor amigo do Comunique-se, eu não sei, ao certo, do que sinto saudade. Coloco no título desse texto que é saudade da escola, mas tenho comigo muitas dúvidas se é isso mesmo. Talvez eu sinta saudade do tempo que eu era apenas o Fábio, um entre inúmeros outros. Hoje eu sou o Fábio de Lima e isso implicou em mudanças. Não sou nada nem ninguém – mas sou único. Ser único é complicado. É muita responsabilidade para não ser dividida com ninguém. Como diria um poeta louco: cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é. Espero que meus professores, meus amigos e meus inimigos estejam bem.

segunda-feira, 23 de julho de 2007


Esporte: um jeito civilizado de se fazer a guerra

Até o dia 29 o Brasil é palco dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Não tenho tempo de ficar na frente do televisor olhando as inúmeras competições que ocorrem, mas adoro esporte. Tenho que confessar neste texto que nunca fui um esportista. Minha principal atividade, ao longo da vida, sempre foi cuspir palavras através de uma caneta. No entanto, acho bonito a prática esportiva. Não sei quem foi o louco que disse: esporte é um jeito civilizado de se fazer a guerra. Palavras sábias. Elas me influenciaram no título deste texto. Elas me influenciaram, também, na forma de enxergar a vida e o mundo, além das palavras. Portanto, atenção nunca é demais.

No mundo que vivemos não existe Santo. Isso é fato. A disputa permeia todas as situações de nosso cotidiano, desde a hora que nascemos. Aliás, no ato da fecundação já existe uma disputa ferrenha para se decidir qual espermatozóide fecundará primeiro o óvulo. Deste momento em diante, as guerras, civilizadas ou não, se proliferam como vermes nos restos de carne que apodrecem entre os transeuntes. Somos vermes de nós mesmos e disputamos nossos próprios restos a cada fração de segundo. Mas, deixemos de lado minha filosofia rasteira.

Final de semana passado aproveitei minhas horas de folga para sentar no sofá e observar atentamente algumas disputas do PAN 2007. Tive vontade de matar alguns norte-americanos do judô. Tive vontade de matar algumas cubanas do handebol feminino. Tive vontade de matar alguns equatorianos do futebol masculino. Tive vontade de matar alguns argentinos do handebol masculino, mas aí nenhuma novidade, pois argentino bom é argentino morto mesmo. Eu era um animal feroz na frente do televisor. Deixo aquela conversa, para boi dormir, de que esporte é amizade, para os próprios esportistas. Eu fui um guerreiro na frente do televisor durante todo o final de semana. Eu queria sangrar os inimigos. Eu queria trucidá-los. Eu queria esquartejá-los. Eu queria vencer, independentemente do custo.

Armado com um controle remoto nas mãos eu assistia a todos os esportes que a televisão me permitia acompanhar ao vivo. Na verdade, eu não assistia somente. Eu estava lá junto com o demais soldados de minha pátria. Eu gritava. Eu levantava do sofá. Eu xingava. Eu pedia calma. Eu dava orientações para os meus companheiros. Eu orientava a mim mesmo. Entristecia-me na derrota. Alegrava-me na vitória. Era suor, sangue e lágrimas. Está bem..., concordo que não havia suor algum em mim, enquanto sentado no sofá. Concordo também que não havia sangue – graças a Deus. Tenho que concordar, também, que não havia lágrimas em nenhum momento. Há, aqui, neste texto de uma terça-feira de trabalho, apenas o exagero de um poeta louco. Mas, no último final de semana, eu estava no clima, caro leitor amigo do Comunique-se. Você me entende?!

O Homem ainda é um primata e isso precisamos admitir antes de qualquer coisa. Quando se disputa um esporte as justificativas são incrivelmente boas e coerentes. Os benefícios físicos, mentais e, também, sociais, com a prática esportiva, são incontestáveis. O prêmio dado ao vencedor, seja um troféu, uma medalha, um carro ou dinheiro vivo, também ajudam o esporte a ficar mais bonito e gratificante. E os guerreiros brigam entre si. Eles odeiam uns aos outros com permissão e sem nenhuma recriminação posterior. Só recompensas. No esporte tudo é permitido, até derramar sangue alheio num combate de boxe. Basta ter regras, juizes, aplausos e prêmios. Não necessariamente nesta ordem.

Mas, mas e (mais um) mas..., não tenho escutado falar em violência no Rio de Janeiro nos últimos dias. Os morros cariocas continuam nos mesmo lugares, obviamente. Os fuzis AK-47 continuam entrando ‘clandestinamente’ no país, obviamente. Os traficantes continuam fazendo o seu ‘trabalho’, obviamente. Tudo é óbvio e deprimente – mesmo o país vivendo duas semanas de esporte e alegria. Peraí...! Alegria?! Muitos dos mais de 200 corpos do acidente do vôo 3054 da TAM, ocorrido na terça-feira passada, 17-07, ainda não foram identificados.

Voltando ao final de semana, o Comando da Aeronáutica informou que a caixa preta do avião, enviada para os Estados Unidos na semana passada, era, na verdade, um gravador. Bem..., eu não saberia reconhecer a caixa preta de um avião, mas até aí nenhum problema. No entanto, o Comando da Aeronáutica também não sabe e aí temos um novo e enorme problema. Caro leitor amigo do Comunique-se, abra os olhos, a guerra é contínua, não dura apenas duas semanas. O inimigo não está, necessariamente, num dos continentes americanos, ele pode estar aqui do lado e ser tão brasileiro quanto eu ou você. Políticos são filhos de uma puta (sem exceção à regra). Eu não conheço jeitos civilizados de fazer uma guerra, portanto só vou nela armado. Minha arma é a caneta e a sua, caro leitor amigo do Comunique-se, qual é?

segunda-feira, 9 de julho de 2007


Vagão e locomotiva

Chega um momento na vida de um HOMEM que é preciso deixar de ser vagão para ser locomotiva. Esta frase não é minha. Anos atrás a escutei de uma amiga, bem mais velha que eu, que dizia ser esta frase a favorita do seu, já falecido, marido. Guardei a frase comigo nos últimos anos. Usei a metáfora em alguns momentos da minha vida, fosse de forma teórica – fosse de forma prática. E, hoje, enquanto escrevo essas palavras, sinto que chegou a minha hora. De agora em diante deixarei de ser vagão para me tornar uma locomotiva.

Durante a vida se adia muita coisa. É fácil encontrar desculpas para os nossos medos e para os nossos fracassos. Difícil é encontrar coragem para se correr riscos e, mais difícil ainda, acertar em nossas decisões. Errei muito ao longo da vida. E antes de errar tive um medo paralisante inúmeras vezes. Fui um tolo. Mas aquele que não foi e que nunca sentiu medo pode atirar, em mim, sua primeira pedra. Um HOMEM é constituído de desafios e superações. Penso que nada disso acontece sem a presença constante do medo.

Para iniciar minha fase como locomotiva terei que, antes de qualquer coisa, aceitar a derrota. Aceitar que errei ao buscar a minha felicidade nos lugares e nas pessoas erradas. Sem culpar ninguém e sem fazer caça às bruxas devo mudar meus objetivos. Sempre fui um sonhador, um romântico, um poeta das palavras e das ações. No entanto, o mundo mudou muito e eu não soube acompanhar estas mudanças. Eu tenho que ser um HOMEM prático e deixar a teoria para os meus textos e meus devaneios da alta madrugada. Eu devo me olhar no espelho e enxergar quem eu sou e não quem eu sonho ser.

Nada do que estou falando é simples de ser colocado em prática. Terei que conviver com a dor em mudanças abruptas de comportamento. Mas será tudo uma escolha. Abrirei mão dos meus sonhos para viver minha realidade – seja ela boa ou ruim. Ao nascer e crescer alguns comemoram o talento, mas o talento sozinho é o primeiro fundamento do fracasso e da desilusão. Você, leitor amigo, já se olhou no espelho, com olhos de enxergar, para ver o HOMEM que você é?! Chega um momento na vida que é preciso deixar de ser vagão para ser locomotiva.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Dunga e o Brasil

Após a eliminação vexatória do Brasil na Copa do Mundo da Alemanha, no ano passado, o clamor público pedia mudanças. Portanto, veio de encontro a essa vontade do povo brasileiro, dos 180 milhões de técnicos de futebol, a escolha de Dunga, o capitão da seleção brasileira na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994, para ser o novo técnico do Brasil. Era o início de uma renovação. Mas os críticos de plantão já se anteciparam ao problema. Eles questionaram o fato de Dunga não ter nenhuma experiência como técnico. O que era uma verdade.

No final de julho do ano passado, menos de 30 dias após a final da Copa do Mundo, Dunga já assumia a seleção, sendo que sua estréia ocorreu em agosto, num amistoso com a Noruega, em empate de 1 a 1. E Dunga permaneceu invicto até fevereiro desse ano – quando a seleção canarinho perdeu para Portugal, do brasileiríssimo Luiz Felipe Scolari, por 2 a 0. Foi a partir dessa derrota que Dunga teve que olhar de frente para o povo brasileiro e perceber que sua cruz, como perna de pau do futebol, não havia sido detonada com a conquista de uma Copa do Mundo, que o Brasil não ganhava desde a Copa de 70.

Dunga começou a desagradar a mídia e, consequentemente, ao povo. Enquanto vencia, chamavam a atenção, também, suas camisas coloridas e de designers modernos. Depois da derrota, chamavam a atenção, também, suas camisas de cores berrantes e de designers ridículos. Uma filha do jogador é estudante de moda e andou opinando bastante na forma de se vestir do capitão do tetracampeonato. A mídia gostou no começo, mas pegou no pé de Dunga depois dos maus resultados da seleção. Bem, que a mídia condenasse a filha de Dunga e não o técnico – mas, nesse país, os Judas são sempre os mesmos.

Na semana passada teve início a Copa América de futebol. O Brasil perdeu para o México por 2 a 0. Esta foi a segunda derrota de Dunga no comando da seleção brasileira. Chamaram o ex-volante da seleção, de asno para baixo. Novos nomes para assumir a seleção do Brasil já foram comentados pelos entendidos em futebol. Dunga voltou a ser sinônimo de gozação pelas ruas de nosso país – como sempre foi até 94. A cruz estava de volta e bem pesada no ombro do ex-jogador, e agora técnico. A história se repetia. O brasileiro não entende como um país que teve Pelé e Garrincha pode também ter um Dunga.

Neste último final de semana houve o segundo jogo do Brasil na Copa América e a seleção jogou pessimamente, na avaliação dos críticos e, também, desse humilde escritor que vos fala. O Brasil ganhou de 3 a 0 do Chile, numa jornada inspirada de Robinho, o craque da seleção brasileira, que fez os 3 gols. Então, os brasileiros não entendem como um país que teve Pelé, Garrincha, e, agora, Robinho pode também ter um Dunga. Quando o assunto é futebol, no Brasil só existe talento, não existe trabalho. O povo quer craques e gênios, mesmo que sejam de apenas um final de semana. Aqui não há espaços para Dungas.

Penso que o técnico Dunga peca ao não praticar esquemas táticos convincentes. Comentaristas de futebol adoram discutir esquemas táticos. Outro problema do ex-capitão brasileiro é não paparicar a imprensa. A imprensa brasileira adora ser paparicada. E o principal problema do Dunga, mesmo, é nunca ter sido craque. A imprensa e todo o povo brasileiro gostam de jogadores dribladores e que fazem gols bonitos, jogadas de efeito. Dunga nunca fez isso. Dunga foi sempre um trabalhador apenas. Ele não se enquadrou e nem se enquadra naquele estereótipo consagrado por Walt Disney ao criar o Zé Carioca. Dunga não é um príncipe ou um rei da bola. Dunga é apenas Dunga. No Brasil ninguém quer ser Dunga – todos querem ser, pelo menos, Romário.

Dunga não reverencia apenas o talento e sim o trabalho. Ele não quer 11 Romários em campo. O atual técnico do Brasil quer 10 Dungas em campo e se tiver um Romário – muito bem – mesmo que esse se chame Robinho – mas, se não tiver também, nenhum problema, o trabalho continua e a próxima Copa do Mundo será só em 2010. Mas brasileiro não tem paciência, quando o assunto é futebol. E fico aqui pensando no Dunga e no Brasil. Penso o quanto seria bom se nossos 180 milhões de técnicos de futebol entendessem, tanto assim, também de política. Para finalizar: nunca gostei do Zé Carioca. Desenho bom mesmo é o da Branca de Neve e os Sete Anões!

domingo, 24 de junho de 2007


O discurso

Eu estava cego de medo. Entrei no auditório e vi uma multidão de manchas apenas. Não consegui distinguir rostos. Não consegui distinguir cabelos. Não consegui distinguir palco de platéia. Foi quando um perfume de mulher e voz doce, como só as mulheres podem e sabem ter, me pegou pela mão direita e me levou em direção ao microfone. Aquela mulher me ajudara muito nos últimos dias. Mas, estava frio naquele palco e, de repente, o silêncio se fez. Era um momento só meu e ninguém poderia mais me ajudar. Era o exato momento de eu falar. Mas falar o quê?

Todos esperavam frases inteligentes e espirituosas. Eu havia sido eleito, naquele ano, o melhor orador do Brasil, segundo uma votação da ABL (Academia Brasileira de Letras), e meu livro mais recente O DISCURSO era o mais vendido em 6 países da América Latina. No período de aproximadamente 7 anos eu deixara de ser um jornalista medíocre, com salário de R$ 2,5 mil, ao mês, para me tornar um dos grandes escritores da literatura contemporânea brasileira e um profissional das letras reconhecido em todo o mundo. Como? Este era o problema: eu não sabia!

Cerca de 4 meses antes, eu sofrera um acidente de carro. Fiquei em coma por 17 dias e quando voltei a lucidez tive uma amnésia estranha. Só lembrava algumas coisas da minha vida e não lembrava de uma pessoa se quer. Tudo que vivi estava confuso, mas muito confuso mesmo. Absolutamente tudo parecia trechos de filmes, mas sem começo e fim, apenas fragmentos, e sem rostos que me situasse junto às personagens. Eu era um homem de um passado e de uma história incrível, nas palavras de um monte de gente, embora eu mesmo não soubesse, com certeza, quem eu era.

Então, algumas pessoas se apresentaram como amigas. Uma senhora muito angelical se apresentou como minha mãe, um senhor muito brincalhão e desajeitado se apresentou como meu pai, e uma jovem muito simpática e prestativa se apresentou como minha irmã. Não bastasse, uma outra jovem, bastante atraente e alegre, se apresentou como minha esposa. Estas mesmas pessoas disseram que filhos eu não tinha ainda, mas, nos últimos anos, andava com muita vontade em tê-los.

Mas voltando ao palco, que acreditei, por alguns minutos, ser o local do meu calvário, lembro, agora, que respirei fundo e olhei atentamente para aquele monte de pessoas ansiosas e compenetradas na minha pessoa em cima do palco. Retirei as mãos trêmulas de dentro dos bolsos e segurei o microfone pendurado num pedestal. Os rostos foram ficando nítidos um a um. Meus olhos marejaram e segurei o microfone com mais força. Eu continuava sem me lembrar de nada, mas tive uma vontade imensa de falar. Quando a primeira lágrima desceu do meu olho esquerdo para a minha face tive certeza que era chegado o momento de começar o discurso.

"Bom dia para os que forem de bom dia. Boa tarde para os que forem de boa tarde. Boa noite para os que forem de Boa noite. Estou aqui hoje sem saber ao certo quem sou e sem ter a mínima idéia do que devo falar. Não me acho criativo o bastante para receber atenção de tantas pessoas. Dizem por aí que sou um grande escritor. Dizem por aí que sou um grande poeta. Dizem por aí que sou um grande orador. Confesso que nesse momento a única coisa que tenho certeza é do medo que sinto..."

"Tenho medo de muitas coisas, mas o principal medo, aqui, hoje, é decepcioná-los. Talvez um dia eu tenha sido tudo que vocês dizem que sou. Talvez um dia. No entanto, como sabem, um acidente de carro atravessou minha vida. Fiquei alguns dias sem consciência e depois de acordar me lembro de pouca coisa. Hoje sou apenas um homem confuso que, segundo os documentos, tem 33 anos de idade, nascido numa das maiores cidades do mundo, São Paulo, e num país subdesenvolvido chamado Brasil. Meus cabelos estão grisalhos, minhas rugas estão evidentes e mais nada..."

"Acredito que todos vocês esperam de mim, hoje, muito mais que tenho a oferecer. Portanto, lamento o inconveniente de ter tomado parte do tempo dos senhores. Sinto, muitíssimo também, pelo trabalho e pelo constrangimento que dou, neste momento, a tão simpáticas pessoas, que se dizem meus amigos e familiares. Eu queria muito lembrar de coisas importantes e poder falá-las com total conhecimento de causa neste instante. Mas, minutos atrás, tive que pedir ajuda para comer uma fruta chamada laranja, pois confesso para os senhores que eu não sabia como devia comê-la..."

Neste momento eu andei em direção a escada de descida do palco, enquanto enxugava as lágrimas com a manga da camisa. Então, uma voz de criança vinda da platéia gritou rasgando o silêncio instaurado:

- O senhor ainda tem medo da morte depois do que aconteceu?

Olhei para a platéia de volta e enxerguei, na primeira fileira, uma menina de aproximadamente 7 anos de idade acompanhada de um senhor e de uma senhora que acreditei, prontamente, serem os seus pais. Os 3 eram muito loiros e com olhos azuis e grandes. Pareciam uma família muito bonita e bondosa. Não sei explicar o motivo dessa minha imediata impressão, mas foi exatamente a que tive. Naquele momento algo aconteceu que eu também não sei explicar. Tive uma sensação de saudade e uma vontade enorme de continuar. Mas continuar o quê? Voltei ao centro do palco em direção ao microfone e recomecei.

"O ser humano costuma ter dois assuntos principais que gosta de falar. O primeiro deles é sobre quem ele é. O segundo é sobre quem ele gostaria de ser. Fora esses dois assuntos, ele costuma dizer muitas bobagens, mas a vida é muito curta para se dizer, se fazer e se sonhar bobagens. Na realidade, eu acho que todos nós, sem exceção, colocamos a morte em primeiro lugar, em detrimento da vida. Todos nossos erros são minimizados pela morte que um dia chegará, implacável, e teremos que passar por um juízo final. Todos nossos acertos são minimizados pela morte que um dia chegará, implacável, e teremos que passar por um juízo final. Ou seja, desde a hora que nascemos, esperamos a morte para corrigir e concluir tudo..."

"Eu não sei exatamente o homem que fui até o dia do meu acidente. Segundo os médicos, não há nada de errado comigo para que eu não lembre do meu passado. Mas, por algum motivo, que nem eu e nem os médicos sabem explicar, continuo sem me lembrar de nada. O fato importante que tenho a dizer para os senhores, hoje, é que não tenho mais medo da morte. De agora em diante, eu só presto reverências à vida. E espero que todos vocês consigam, em breve, fazerem o mesmo sem precisar, para isso, depararem com a morte. O passado não me serve mais para nada, mas sou, agora, o melhor homem do mundo, existindo e se renovando a cada novo momento. O discurso está terminado. Obrigado!"

Terminado o discurso fui invadido por uma paz e por um carinho, comigo mesmo, que, obviamente, não lembrava ter sentido antes. Pensei que, se aquele era um recomeço para minha vida, recomeçava bem. Vi meus familiares e amigos subirem ao palco e virem em minha direção. Abracei e fui abraçado por todos. Beijei e fui beijado por todos. Achei tempo ainda para olhar todo aquele auditório lotado, onde todas as pessoas abandonaram suas cadeiras para me aplaudirem de pé. Foi só neste instante que reparei não estarem mais, na primeira fileira, a criança loira, de olhos azuis e grandes, acompanhada de seus pais. Havia apenas 3 cadeiras vazias. Nesse momento lembrei de tudo que havia esquecido e tive certeza o quanto me fazia feliz ser um homem bom, sabendo discursar ou não.

domingo, 17 de junho de 2007


Segredos da vida


- Fecha a porta!
- Por quê?
- Fecha logo!
- Está bem.
- Preciso de contar um segredo...!
- Pode falar.
- Você promete que não vai contar para ninguém?!
- Prometo.
- Jura?!
- Juro, claro, Emanuelle.

Emanuelle havia acabado de atropelar uma pessoa. Foi sem intenção, é claro. Ela dirigia o carro em alta velocidade pela avenida Cupecê, Zona Sul de São Paulo. Eram, mais ou menos, 6 horas da manhã, de um domingo frio.. Na avenida existem alguns radares de velocidade, mas Enanuelle estava com pressa. Além do mais, seu carro tinha placa de Garanhuns, interior de Pernambuco. Ela acreditava que qualquer multa jamais seria cobrada dela. Então, aumentou o volume do som do carro e pisou fundo. "... Eu ando pelo mundo divertindo gente e chorando ao telefone...".

- Eu matei uma pessoa!
- Como é?
- Verdade! Eu matei! Eu estava na avenida e um homem atravessou correndo! Não deu para brecar o carro! Eu juro!
- Calma, Emanuelle. Eu não estou entendendo nada...!
- Porra, eu acabei de atropelar uma pessoa e fugi! Eu fugi, entende?!
- Calma Emanuelle. Talvez a pessoa não tenha morrido. Onde foi isso?!

Juarez era vigia noturno. Homem simples que deixou Pernambuco nos anos 70 e veio tentar a sorte na cidade de São Paulo. Jamais voltou para a sua cidade – nem a passeio. Analfabeto que só sabia desenhar algumas palavras, incluindo seu nome, trabalhou com quase tudo na cidade grande: faxineiro, engraxate, pedreiro, padeiro, mecânico de carro, manobrista, porteiro, mas criou 5 filhos trabalhando, boa parte da vida, como vigia noturno. Dizia que trabalhar à noite era bom, porque ganhava mais.

- Eu fui deixar a Márcia em casa. Ela mora em Diadema. Saímos 5 horas da balada. Ela mora longe! Eu fui lá deixá-la e estava voltando! Eu estava cansada...!
- Calma, Emanuelle, eu vou pegar um copo de água para você.
- Eu não quero água, porra!
- Não grita! Você vai acordar todo mundo.
- Eu matei! Eu matei! Meu Deus, eu matei!

Márcia encontrou sua mãe na cozinha preparando o café. O cheiro percorria toda a casa. Estava morrendo de sono, mas não dava para resistir a um aroma tão bom como aquele. Sentou à mesa com sua mãe e tomou um xícara de café e comeu 3 bolachas, água e sal, que seu pai havia comprado no dia anterior.

- Papai está demorando hoje, mamãe. Eu não vou esperá-lo não. Vou me deitar. Não estou me agüentando em pé.
- Passa a noite na rua, Márcia. Já te falei que eu não gosto disso. Seu pai também não gosta. É perigoso.
- Dancei muito mamãe! Beijei muito! Foi muito legal!
- A sua amiga não achou ruim vir te trazer aqui, tão longe?
- Que isso, mamãe. A Emanuelle é louquinha. Veio aqui rapidinho. Ela é muito gente boa. Demos muitas risadas juntas, hoje.
- Emanuelle é um nome bonito, minha filha.
- Ah, falando em nome, você não sabe, mamãe! A placa do carro da Emanuelle é de Garanhuns! É a cidade natal do papai, não é mamãe?
- É sim, Márcia! Por que o carro dessa Emanuelle é de lá?
- Não sei! Eu perguntei, mas ela disse que era segredo! Ela é louquinha, mamãe!

Emanuelle estava atônita. Achava que aquilo não podia ter acontecido com ela. Não sabia o que fazer. Tudo havia sido muito rápido e inesperado. Queria que fosse apenas um pesadelo, mas não era. Podia ter dirigido mais devagar. Podia não ter ido levar Márcia em casa. Podia nem ter ido àquela balada. Achava um monte de coisa, mas o pesadelo parecia real. Seus pensamentos estavam mergulhados em sangue depois daquela manhã.

- Você quer ir a uma delegacia ou a um hospital, Emanuelle?
- Não sei...! Não sei...! Meu Deus, eu não sei...!
- Quer que eu acorde o papai?
- Não! Por favor, não! Ninguém pode saber! Você me prometeu!
- Mas Emanuelle...!
- Você jurou! Isso será um segredo nosso! Ninguém nunca saberá!
- Tudo bem. Calma. Não chore, Emanuelle...!

Márcia e Emanuelle nunca mais foram a uma balada juntas. Juarez nunca mais voltou à Garanhuns – nem a passeio. E nenhuma multa, por alta velocidade, jamais foi cobrada de Emanuelle. A vida tem os seus segredos.

domingo, 10 de junho de 2007


12 de junho de 2007

Onde foi parar minha caneta? Ganhei da minha ex-namorada no 12 de junho do ano passado. É uma caneta banhada a ouro. Está gravado o meu nome e o dela acompanhado de dois corações. Recordações desse tipo nem sempre fazem bem, mas essa caneta eu guardo com muito carinho sim. Afinal, o que faço boa parte do tempo é escrever. Seja como prostituta ideológica, ao exercer a profissão de jornalista, seja como poeta apaixonado, ao escrever versos e prosas, minha vida é rabiscar, indolentemente, pedaços de papéis.

Agora abro uma gaveta e outra e outra e outra, e nada. Abro aquela caixa onde guardo fotos, cartões e textos das velhas namoradas, e nada. Abro até meu coração por rever tantos papéis importantes, na sua determinada época, mas a caneta não aparece. Fico intrigado. Logo hoje que eu queria olhar para aquela caneta e escrever a palavra saudade num pedaço de papel. Logo hoje que estou sensível, só, e precisando de uma amiga.

A caneta sempre foi minha melhor amiga. Muito antes de ganhar essa caneta banhada a ouro, eu já acarinhava aquelas canetas básicas (com a letra B) e escrevia poemas em um caderno de capa azul. Aquele caderno guardo comigo até hoje, embora tudo que escrevi nele esteja com erros de português e muito confuso. Muitas canetas despejei naquele caderno e muitos sentimentos de adolescente estão eternizados naquelas folhas de papel já amareladas. Tudo isso através das minhas canetas amigas.

Mas, hoje, preciso dessa caneta especial. Nenhuma outra me serve. Preciso olhá-la de perto e lembrar de algumas coisas que sem minha caneta, em mãos, torna-se impossível. Preciso lembrar do sorriso da minha ex-namorada nesse dia dos namorados. Preciso, só hoje, tentar voltar no tempo e corrigir todos os erros praticados. Preciso apagar com uma borracha a palavra impossível e da escrita da palavra saudade abrir todo um baú de possibilidades. Hoje, só ela me serve e as outras são as outras e só.

Acho que acabo de plagiar um trecho de música, mas tudo que puder ser dito em nome do amor é bom. Se puder ser escrito e eternizado no tempo para todo o sempre, melhor ainda. No entanto, caso não encontre minha caneta, não terei coragem de usar uma outra. Preciso dela como nunca precisei antes. Aliás, seria muito bom poder falar isso para ela, desde que ela estivesse aqui e pudesse me ouvir, é claro. Meus olhos, minhas mãos e meus pensamentos sentem a sua falta.

Já procurei em todos os cantos. Revirei a casa. Está tudo de pernas para o ar e nada da caneta. Será que a roubaram? Como alguém poderia vir aqui – no meu pedacinho de mundo – e pegar minha caneta? Ela tem que estar em algum lugar que não seja cravada em meu coração. Ela tem que estar a minha espera para juntos vivermos sentimentos únicos. Nenhuma outra caneta me serve. Nenhum outro amor substitui o verdadeiro. Caro leitor amigo do Comunique-se, se vires uma caneta com o nome Fábio de Lima e UM GRANDE AMOR, me ligue: (11) 9510-5080.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Doce desespero


Cuspi no chão e passei o sapato sobre o cuspe. O relógio da igreja já apontava 9h35. O filho de uma puta estava atrasado mais de meia hora e eu ali, plantado, o esperando. Detesto atraso. Numa hora dessas um cigarro me acalmaria, mas eu havia abandonado esse vício 5 dias atrás. Só que a tentação era grande. Então, endireitei o nó da gravata e fiz um semblante de homem bom, tranqüilo e paciente. Arranquei um talo de capim que brotava do chão, entre umas rachaduras da calçada, e o amassei nas mãos para sentir melhor o cheiro de capim molhado. Foi aí que avistei o padre chegando e entrando com passos apressados na igreja. Sempre evitei matar padres, mas isso não era regra. E, mesmo que fosse, para toda regra existe sempre uma exceção.
Joguei o capim amassado na sarjeta e atravessei a rua em direção à igreja. Fui direto à sacristia. Precisava ser rápido. Mais alguns minutos o sino anunciaria o chegar das 10h00. Antes disso, o serviço precisava ser feito.


- Padre Rogério? O senhor está aí?
- Quem é?
- Estou precisando me confessar, padre. É urgente.
- Já vou.


Escutei um barulho de torneira aberta e sua água caindo. Depois a ouvi sendo fechada. Adiante um silêncio seguido de um chiado como o amassar de papel. Momentos depois vi o padre sair do lavabo e caminhar em minha direção ainda enxugando as mãos com papel toalha. Ele não havia me olhado nos olhos. Parecia preocupado com o seu atraso e tentava organizar seus afazeres antes de começar a missa.


- Meu filho, já vou começar a missa. Podemos conversar depois, né?
- Não padre. Não podemos.


Então, finalmente, ele me olhou e seus olhos encontraram os meus. Neste instante percebeu que não rezaria mais nenhuma missa nessa vida. Antes de qualquer barulho ou justificativa, arranquei a arma de dentro de uma pasta que trazia comigo e lhe dei 2 tiros a queima roupa. Ele caiu quase aos meus pés. Perdi alguns segundos enquanto cuspia em sua boca e dessa vez não limpei o cuspe. Padre Rogério não merecia esse tipo de preocupação.


Padre Rogério foi quem ensinou Alfredinho a tocar violão. O menino tinha 09 anos quando seus pais pediram que o padre ensinasse àquele garoto tímido a tocar um instrumento musical. Dentro de 6 meses Alfredinho já tocava o que queria naquele violão que seu pai havia lhe ofertado, de presente, no Natal. Durante o tempo que Padre Rogério ensinou Alfredinho a lidar com aquele instrumento de cordas, outras coisas também foram ensinadas ao menino. Massagear partes do corpo do padre, que, segundo ele, havia dores constantes, foi uma delas. Morder, lamber e chupar sempre as mesmas partes do corpo do padre também foram outras coisas ensinadas. Padre Rogério fazia as mesmas coisas no garoto e dizia que era uma espécie de prevenção para que o menino não sofresse com dores quando ficasse adulto.


Sai pelos fundos da igreja. Ajeitei mais uma vez o nó da gravata. Segurei a pasta com a mão direita e coloquei a mão esquerda no bolso da calça, enquanto andava tranqüilamente em direção à rodoviária. O mundo não era justo e eu sabia disso. Alfredinho era um bom rapaz. A vida não cuidara dele como deveria e nem ele da própria vida, mas era um bom rapaz. Talvez fosse, definitivamente, o irmão que eu não tinha. Portanto, agora o serviço estava feito e a fina garoa que caia em Avaré, desde a madrugada, havia finalmente parado. Eu não sabia se o sol iria aparecer, mas o céu estava limpo e o dia estava claro.


Obs: trecho do livro DOCE DESESPERO ainda em trabalho de escrita pelo jornalista Fábio de Lima.

"VELHA ROUPA COLORIDA



Você não sente não vê

Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança em breve vai acontecer

O que há algum tempo era novo, jovem

Hoje é antigo

E precisamos todos rejuvenescer (bis)

Nunca mais teu pai falou: "She's leaving home"

E meteu o pé na estrada like a Rolling Stone...

Nunca mais você buscou sua menina

Para correr no seu carro, loucura, chiclete e som

Nunca mais você saiu a rua em grupo reunido

O dedo em V, cabelo ao ventoAmor e flor, que é de cartaz?

No presente a mente, o corpo é diferente

E o passado é uma roupa que não nos serve mais (bis)

Você não sente não vê

Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança em breve vai acontecer

O que há algum tempo era novo, jovem

Hoje é antigo

E precisamos todos rejuvenescer (bis)

Como Poe, poeta louco americano,

Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?

"Raven never raven never raven

Blackbird me responde

Tudo já ficou atrás

Raven never raven never raven

Assum-preto me responde

O passado nunca mais

Você não sente não vê

Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo

Que uma nova mudança em breve vai acontecer

O que há algum tempo era novo, jovem

Hoje é antigo

E precisamos todos rejuvenescer (bis)

E precisamos rejuvenescer" (BELCHIOR)


Obs 1: música incidental.