terça-feira, 18 de setembro de 2007


Circo de horrores

- Vai! Corre!
- Atira, atira, atira – porra!
- Vai! Corre!
- Ai! Me acertaram – porra!
- Fodeu! Fodeu!
- Estou sangrando! Ai! Caralho!
- Fodeu! Fodeu!
(MERDA! MERDA! MERDA!)

Faz 30 dias, um pouco mais, um pouco menos (pouco importa), que um filme brasileiro está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos entre os camelôs de DVDs piratas no país. O filme TROPA DE ELITE está bombando, como diz a galera jovem. O novo filme do diretor José Padilha (lembra dele?), aquele que fez o documentário ÔNIBUS 174, um filme de 2002, é uma aula de cinema e, principalmente, uma aula de Brasil. O TROPA DE ELITE só deve chegar às salas de cinema no próximo mês, mas o povo tem pressa e, também por isso, o filme já é um sucesso entre as pessoas que assistiram à cópia pirata.

Quarta-feira levantei às 6h00 e fui do ABC paulista para a 25 de março (maior shopping aberto do Brasil), na região central de São Paulo. Eu queria um DVD pirata. Eu queria o filme TROPA DE ELITE. Estava louco de vontade de assistir esse filme. Ele fala das ações do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), da Polícia Militar do Rio de Janeiro. É uma ficção baseada em fatos reais. O amigo leitor assistiu ao filme CIDADE DE DEUS? O filme do Padilha está na mesma linha do filme do Fernando Meirelles e que chegou, até, a disputar Oscar. É um cinema visceral e violento até não poder mais.

Na 25 de março encontrei fácil o filme. Como disse acima, o DVD é sucesso de vendas no mercado informal. Filme pirata ou genérico (para quem gosta de palavra bonita), faz sucesso no Brasil por vários motivos. Eu sou fã deles pelo baixo preço. Depois de comprar o filme por, módicos, 2 reais, consegui assisti-lo ainda na manhã da própria quarta-feira. Eu tinha pressa, também, e gostei do que vi. O filme é bárbaro, no melhor sentido da palavra. Depois de assisti-lo entendi o interesse do povo por esse filme nacional. É a nossa realidade. É a nossa guerra civil mostrada através de um longa-metragem.

O capitão do BOPE (Nascimento), interpretado muito bem pelo ator Wagner Moura, deseja deixar o batalhão e levar uma vida mais tranqüila. No entanto, precisa antes encontrar um policial preparado para assumir o seu lugar. É claro que o filme vai muito além dessa história e mostra a violência e a corrupção que policiais e traficantes cariocas protagonizam, diariamente, em busca, apenas, da sobrevivência. O Rio de Janeiro tem suas particularidades, até geográficas, mas o que é contado no TROPA DE ELITE assola toda a população brasileira. Todo mundo entende aquela realidade – mesmo que pareça ficção.

Ainda na quarta-feira, já no período da tarde, estava refletindo sobre o filme. Adoro ficar rememorando imagens e diálogos de um bom filme horas depois de assisti-lo. Fico assimilando e interpretando tudo com mais calma. Mas fui atrapalhado nesse momento de reflexão. O telefone tocou e era o meu melhor amigo, o crítico de cinema, Jairo Lavia. O cara estava puto da vida. Perguntou se eu tinha visto a briga, ocorrida em Brasília, envolvendo deputados e seguranças do Senado (era o dia D do caso Renan Calheiros). Eu disse para ele que não estava acompanhando nada daquilo. Expliquei que estava fazendo outras coisas, sem entrar em detalhes.

Depois que desliguei o telefone fiquei pensando o quanto o Brasil está desfigurado. O Jairo havia dito que Brasília (leia Câmara e Senado) é um circo de horrores. Fiquei pensando nos políticos, na miséria brasileira, no tráfico, na violência de policiais e bandidos (e vice-versa!), no BOPE, no cinema brasileiro, na pirataria, e em muitas outras coisas. Mais tarde vi nos noticiários que Renan Calheiros havia sido absolvido. Então, cheguei a conclusão que meu amigo Jairo está errado. Se fosse só Brasília um circo de horrores a gente daria um jeito. Poderíamos até mandar o BOPE fazer uma incursão à capital federal. Porém, o problema é muita mais grave. O circo de horrores não é só Brasília. O circo de horrores é todo o Brasil.

- Vai! Corre!
- Atira, atira, atira – porra!
- Vai! Corre!
- Ai! Me acertaram – porra!
- Fodeu! Fodeu!
- Estou sangrando! Ai! Caralho!
- Fodeu! Fodeu!
(BRASIL! BRASIL! BRASIL!)

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