terça-feira, 18 de março de 2008


Amor estranho amor

Eu não vou falar mais de amor. Essa história já cansou. Vivo quebrando a cara. Acho que mulher nenhuma quer algo sério mais. Não, elas falam que querem, mas, na verdade, não querem. Você fala em namoro e os olhos delas brilham – e quando tudo começa, elas retrocedem. Elas dizem que não estão preparadas para uma relação estável. Não agora. Dizem que você está indo rápido demais. Sempre tem uma desculpa. Mulher é criativa e suas desculpas são cada vez melhores.

Sou romântico, mas isso nunca me levou a nada. Sou o homem dos sonhos de qualquer mãe para ser o genro dela – mas não o homem para ser o marido de uma mulher. Sou bonzinho demais para isso e mulher detesta homem bonzinho. Mulher gosta de homem sacana – para sofrer muito e depois falar para o mundo que só existe homem filho da puta. Mulher não acredita mais. E eu estou começando a, também, não acreditar mais nesse Amor estranho Amor.

Já fiz de tudo. Tentei fazer tudo certo. E quando o certo não dava certo eu já fiz tudo errado, também, para ver se assim acertava. Mas nada deu certo – nem o certo e nem o errado. Então, eu, escritor, poeta (bela merda), passei a ser visto como o cara estranho que só fala em amor e casamento. Realmente ninguém merece um ET desse tipo em sua vida. Tentei mudar e juro que tentei ser um homem como qualquer outro, metido a garanhão e que pega todas, mas não se apega a nenhuma mulher. Tentei, mas, definitivamente, não é meu estilo.

Voltei a ser o que sempre fui. Sou um homem doce – embora nem eu mesmo saiba o que significa ser assim. Sou uma flor sem espinhos num jardim de rosas. Mas não sou isso por que quero. Nasci assim. Essa é aquela cruz que carrego comigo. Sou artista sensível – embora não seja gay. Sou um homem com olhar de homem e com palavras e sentimentos femininos. Então, algumas mulheres me acham o amigo ideal. Lembro que uma vez uma delas me disse que eu era sua melhor amiga de calças. Belas palavras para dar um fora num homem! Diga-me, caro leitor amigo do Comunique-se, se elas não são criativas?!

E assim vou vivendo – escrevendo e sofrendo meus amores impossíveis. Como disse, certa vez, um louco: o impossível só existe até o momento que alguém vai lá e faz. Estou aqui acreditando no amor e nas palavras de todas que um dia já disseram me amar. Continuo sonhando com a igreja, com a aliança e com todas aquelas coisas que sonham os que amam como eu. Estou fora de moda, é bem verdade, mas no meu coração reside um homem que não desistirá, um só minuto, de ser feliz. Comecei esse texto dizendo que não falaria mais sobre o amor. Falei. Disse em algum momento que já estava para não acreditar mais nesse sentimento. Ainda acredito. É difícil: amor estranho amor.


domingo, 9 de março de 2008


Não chores por mim, Brasil

Eu pago para ver que país o Brasil vai virar. Não será de algodão doce – tenho certeza. Nem será nunca conto de fadas do Walt-Disney. As pesquisas não interpretam o que ele já é. Presidente e ministros não entenderam nada. O Brasil é mais que uma piada, mas a gente também não entendeu. Chega daquela conversa de país do futuro, né? E nas esquinas os pedintes também não sabem de nada. Já os livros didáticos..., ah, esses não sabem nem quem descobriu o Brasil.

O trânsito está caótico na rua aqui perto de casa. No hospital aqui do lado tem uma fila de gente esperando para morrer. Os bancos, na rua da direita, não sabem mais onde colocar todo o seu dinheiro. E as escolas, aqui pertinho, estão em greve – mas os professores (que sabem tudo) não sabem o motivo da paralisação. Os alunos resolveram cabular aula, mesmo sem aula. E nas farmácias aqui do bairro estão vendendo remédios para engravidar, para abortar, para resfriado e para qualquer coisa. Negócios são negócios.

O Brasil não é Cuba. O Brasil não é Estados Unidos da América. O Brasil não é Afeganistão. Quem é o Brasil, então? Coço a cabeça e escrevo devaneios. O asfalto está um buraco só. A cozinha está no lugar do quarto e o quarto no lugar da sala. Na verdade, tudo não passa de um enorme banheiro. O dinheiro escorre pelo ralo e brasileiro não existe – ele é uma ficção criada pela Rede Globo. Segura o guarda-chuva com força que a chuva é de pedra na cabeça do povo. Segura com força, tá?

Janeiro, fevereiro e março. Sai da frente que lá vem a mordida do leão. A selva faz do brasileiro um bicho. Estou contando as moedas para comprar uma cueca nova. Seu José está contando as moedas para comprar um litro de leite. Dona Maria queria contar as moedas – mas moedas não há para contar. E o futebol, hein? Que delícia! E o samba, hein? Que maravilha! E as belezas naturais? Que lindas! E o filho do filho do meu vizinho pedindo no farol? Pula essa parte! O que for com os outros não é comigo.

Ah, mas olha que bandeira linda tremulando no mastro. Corre, corre, corre que estão vindo os bandidos! Corre, corre, corre que estão vindo os policia (sic)! Meu chinelo de dedo, minha calça rasgada, minha camiseta regata, meu boné puído e o calendário passando, passando, passando e o Brasil cheirando à rosas pretas e espinhosas. Meu país é uma esmola jogada fora da bacia. Não chores por mim, Brasil, eu sou apenas mais um brasileiro; chores por ti ao olhar-te no espelho. Quanta decepção!