quarta-feira, 5 de dezembro de 2007


Fábio

No próximo domingo, 09 de dezembro, eu, Fábio de Lima, jornalista e escritor, um contador de histórias, um estelionatário das letras, completo 31 anos. Parece que foi ontem. A vida passa rápida, caro leitor amigo do Comunique-se. E durante essa semana tenho sentido uma melancolia anormal. Penso que ela não tem nada a ver com a idade – com a síndrome dos trinta e poucos anos. Não, penso que não é isso. Acredito, realmente, que não é nada disso. Acho que é solidão de mim mesmo. Sei lá.

Na vida a gente nasce, cresce, reproduz e morre. Acho que foi isso que aprendi na escola. Mas a vida mesmo, a vida de verdade, nos reserva momentos menos previsíveis. E aí que mora o problema. Como lidar com as surpresas? Como ser o homem que é e não o homem que sonha em ser? Fiz análise durante um tempo. Escrevo, sempre, nas horas vagas. Sou um constante observador de mim mesmo. Tento me conhecer mais a cada instante e ser alguém melhor do que a realidade me leva a ser.

Quando comecei a escrever esse texto dei a ele o título provisório de Página virada. Mas, conforme o texto foi ganhando forma e estilo, percebi que havia mais de mim nele do que as outras histórias que costumo contar. Ele, sem pretensão inicial, desenha meu rosto, num pedaço de papel, com suas rugas de alegrias e tristezas ao longo da vida. Sim, num pedaço de papel, caro leitor amigo. Esse texto que você lê não é para o Comunique-se e nem para qualquer outro lugar ou para qualquer outra pessoa. Esse texto eu escrevo para imprimi-lo e presentear-me pelo aniversário desse ano. Esse texto sou eu diluído em palavras.

Enquanto escrevo, deixo as lágrimas escorrerem pela face. Não se assuste, caro leitor amigo. Não sinto depressão ou coisa similar. O fato é que sou assim – alguém que escreve os sentimentos e não os pensamentos. Minha solidão de hoje é só vontade de me olhar no espelho e encontrar minha alma. Rosto e corpo a gente vê todo dia – mas a alma, ah a alma..., a alma, só às vezes. Feliz aniversário, Fábio! Caro leitor amigo, meu presente desse ano é o encontro dos meus sentimentos com a minha literatura e comigo mesmo. Para completá-lo e deixá-lo ainda mais com a minha cara, peço apenas um poema emprestado do gênio Carlos Drummond de Andrade:

E agora, Fábio?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Fábio? E agora, Você?

Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta? E agora, Fábio?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou, e agora, Fábio?

E agora, Fábio?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta;
quer morrer no mar, mas o mar secou;
quer ir para Minas, Minas não há mais.
Fábio, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....Mas você não morre, você é duro, Fábio!

Sozinho no escuro qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua para se encostar,
sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, Fábio!
Fábio, para onde?

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