quarta-feira, 4 de julho de 2007

Dunga e o Brasil

Após a eliminação vexatória do Brasil na Copa do Mundo da Alemanha, no ano passado, o clamor público pedia mudanças. Portanto, veio de encontro a essa vontade do povo brasileiro, dos 180 milhões de técnicos de futebol, a escolha de Dunga, o capitão da seleção brasileira na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994, para ser o novo técnico do Brasil. Era o início de uma renovação. Mas os críticos de plantão já se anteciparam ao problema. Eles questionaram o fato de Dunga não ter nenhuma experiência como técnico. O que era uma verdade.

No final de julho do ano passado, menos de 30 dias após a final da Copa do Mundo, Dunga já assumia a seleção, sendo que sua estréia ocorreu em agosto, num amistoso com a Noruega, em empate de 1 a 1. E Dunga permaneceu invicto até fevereiro desse ano – quando a seleção canarinho perdeu para Portugal, do brasileiríssimo Luiz Felipe Scolari, por 2 a 0. Foi a partir dessa derrota que Dunga teve que olhar de frente para o povo brasileiro e perceber que sua cruz, como perna de pau do futebol, não havia sido detonada com a conquista de uma Copa do Mundo, que o Brasil não ganhava desde a Copa de 70.

Dunga começou a desagradar a mídia e, consequentemente, ao povo. Enquanto vencia, chamavam a atenção, também, suas camisas coloridas e de designers modernos. Depois da derrota, chamavam a atenção, também, suas camisas de cores berrantes e de designers ridículos. Uma filha do jogador é estudante de moda e andou opinando bastante na forma de se vestir do capitão do tetracampeonato. A mídia gostou no começo, mas pegou no pé de Dunga depois dos maus resultados da seleção. Bem, que a mídia condenasse a filha de Dunga e não o técnico – mas, nesse país, os Judas são sempre os mesmos.

Na semana passada teve início a Copa América de futebol. O Brasil perdeu para o México por 2 a 0. Esta foi a segunda derrota de Dunga no comando da seleção brasileira. Chamaram o ex-volante da seleção, de asno para baixo. Novos nomes para assumir a seleção do Brasil já foram comentados pelos entendidos em futebol. Dunga voltou a ser sinônimo de gozação pelas ruas de nosso país – como sempre foi até 94. A cruz estava de volta e bem pesada no ombro do ex-jogador, e agora técnico. A história se repetia. O brasileiro não entende como um país que teve Pelé e Garrincha pode também ter um Dunga.

Neste último final de semana houve o segundo jogo do Brasil na Copa América e a seleção jogou pessimamente, na avaliação dos críticos e, também, desse humilde escritor que vos fala. O Brasil ganhou de 3 a 0 do Chile, numa jornada inspirada de Robinho, o craque da seleção brasileira, que fez os 3 gols. Então, os brasileiros não entendem como um país que teve Pelé, Garrincha, e, agora, Robinho pode também ter um Dunga. Quando o assunto é futebol, no Brasil só existe talento, não existe trabalho. O povo quer craques e gênios, mesmo que sejam de apenas um final de semana. Aqui não há espaços para Dungas.

Penso que o técnico Dunga peca ao não praticar esquemas táticos convincentes. Comentaristas de futebol adoram discutir esquemas táticos. Outro problema do ex-capitão brasileiro é não paparicar a imprensa. A imprensa brasileira adora ser paparicada. E o principal problema do Dunga, mesmo, é nunca ter sido craque. A imprensa e todo o povo brasileiro gostam de jogadores dribladores e que fazem gols bonitos, jogadas de efeito. Dunga nunca fez isso. Dunga foi sempre um trabalhador apenas. Ele não se enquadrou e nem se enquadra naquele estereótipo consagrado por Walt Disney ao criar o Zé Carioca. Dunga não é um príncipe ou um rei da bola. Dunga é apenas Dunga. No Brasil ninguém quer ser Dunga – todos querem ser, pelo menos, Romário.

Dunga não reverencia apenas o talento e sim o trabalho. Ele não quer 11 Romários em campo. O atual técnico do Brasil quer 10 Dungas em campo e se tiver um Romário – muito bem – mesmo que esse se chame Robinho – mas, se não tiver também, nenhum problema, o trabalho continua e a próxima Copa do Mundo será só em 2010. Mas brasileiro não tem paciência, quando o assunto é futebol. E fico aqui pensando no Dunga e no Brasil. Penso o quanto seria bom se nossos 180 milhões de técnicos de futebol entendessem, tanto assim, também de política. Para finalizar: nunca gostei do Zé Carioca. Desenho bom mesmo é o da Branca de Neve e os Sete Anões!

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