segunda-feira, 24 de setembro de 2007

POEMA DOS PÁSSAROS

Sobe a lua
Desce o sol
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

O mundo gira
Desata os nós
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Um cão late
O vento chora
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Brilha o céu
O jardim flora
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

O café esfria
A vida ensina
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Corre o tempo
Repete a sina
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Amor é ilusão
A lágrima brota
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Sonhar é fogo
A cor desbota
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

Viver a paz
Deus é tudo
E eu aqui sozinho esperando o cantar dos pássaros

O sorriso diz
Silêncio é mudo
E eu, POEMA, cantarolando como os PÁSSAROS.

terça-feira, 18 de setembro de 2007


Circo de horrores

- Vai! Corre!
- Atira, atira, atira – porra!
- Vai! Corre!
- Ai! Me acertaram – porra!
- Fodeu! Fodeu!
- Estou sangrando! Ai! Caralho!
- Fodeu! Fodeu!
(MERDA! MERDA! MERDA!)

Faz 30 dias, um pouco mais, um pouco menos (pouco importa), que um filme brasileiro está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos entre os camelôs de DVDs piratas no país. O filme TROPA DE ELITE está bombando, como diz a galera jovem. O novo filme do diretor José Padilha (lembra dele?), aquele que fez o documentário ÔNIBUS 174, um filme de 2002, é uma aula de cinema e, principalmente, uma aula de Brasil. O TROPA DE ELITE só deve chegar às salas de cinema no próximo mês, mas o povo tem pressa e, também por isso, o filme já é um sucesso entre as pessoas que assistiram à cópia pirata.

Quarta-feira levantei às 6h00 e fui do ABC paulista para a 25 de março (maior shopping aberto do Brasil), na região central de São Paulo. Eu queria um DVD pirata. Eu queria o filme TROPA DE ELITE. Estava louco de vontade de assistir esse filme. Ele fala das ações do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), da Polícia Militar do Rio de Janeiro. É uma ficção baseada em fatos reais. O amigo leitor assistiu ao filme CIDADE DE DEUS? O filme do Padilha está na mesma linha do filme do Fernando Meirelles e que chegou, até, a disputar Oscar. É um cinema visceral e violento até não poder mais.

Na 25 de março encontrei fácil o filme. Como disse acima, o DVD é sucesso de vendas no mercado informal. Filme pirata ou genérico (para quem gosta de palavra bonita), faz sucesso no Brasil por vários motivos. Eu sou fã deles pelo baixo preço. Depois de comprar o filme por, módicos, 2 reais, consegui assisti-lo ainda na manhã da própria quarta-feira. Eu tinha pressa, também, e gostei do que vi. O filme é bárbaro, no melhor sentido da palavra. Depois de assisti-lo entendi o interesse do povo por esse filme nacional. É a nossa realidade. É a nossa guerra civil mostrada através de um longa-metragem.

O capitão do BOPE (Nascimento), interpretado muito bem pelo ator Wagner Moura, deseja deixar o batalhão e levar uma vida mais tranqüila. No entanto, precisa antes encontrar um policial preparado para assumir o seu lugar. É claro que o filme vai muito além dessa história e mostra a violência e a corrupção que policiais e traficantes cariocas protagonizam, diariamente, em busca, apenas, da sobrevivência. O Rio de Janeiro tem suas particularidades, até geográficas, mas o que é contado no TROPA DE ELITE assola toda a população brasileira. Todo mundo entende aquela realidade – mesmo que pareça ficção.

Ainda na quarta-feira, já no período da tarde, estava refletindo sobre o filme. Adoro ficar rememorando imagens e diálogos de um bom filme horas depois de assisti-lo. Fico assimilando e interpretando tudo com mais calma. Mas fui atrapalhado nesse momento de reflexão. O telefone tocou e era o meu melhor amigo, o crítico de cinema, Jairo Lavia. O cara estava puto da vida. Perguntou se eu tinha visto a briga, ocorrida em Brasília, envolvendo deputados e seguranças do Senado (era o dia D do caso Renan Calheiros). Eu disse para ele que não estava acompanhando nada daquilo. Expliquei que estava fazendo outras coisas, sem entrar em detalhes.

Depois que desliguei o telefone fiquei pensando o quanto o Brasil está desfigurado. O Jairo havia dito que Brasília (leia Câmara e Senado) é um circo de horrores. Fiquei pensando nos políticos, na miséria brasileira, no tráfico, na violência de policiais e bandidos (e vice-versa!), no BOPE, no cinema brasileiro, na pirataria, e em muitas outras coisas. Mais tarde vi nos noticiários que Renan Calheiros havia sido absolvido. Então, cheguei a conclusão que meu amigo Jairo está errado. Se fosse só Brasília um circo de horrores a gente daria um jeito. Poderíamos até mandar o BOPE fazer uma incursão à capital federal. Porém, o problema é muita mais grave. O circo de horrores não é só Brasília. O circo de horrores é todo o Brasil.

- Vai! Corre!
- Atira, atira, atira – porra!
- Vai! Corre!
- Ai! Me acertaram – porra!
- Fodeu! Fodeu!
- Estou sangrando! Ai! Caralho!
- Fodeu! Fodeu!
(BRASIL! BRASIL! BRASIL!)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Bobagens no gelo

O programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, exibe um quadro chamado Dança no Gelo. Nele “artistas” globais (ou não) passam dias treinando patinação no gelo e, no final de semana, exibem uma coreografia musical que é avaliada por um júri. Ou seja, é uma competição. Não sei o tempo exato que esse quadro faz parte do programa, mas pelo que escuto dos críticos de TV, ou fofoqueiros de plantão, como preferir, o quadro é um sucesso. Fico intrigado: vivemos num país tropical onde o gelo sempre foi usado para ir dentro da caipirinha apenas, mas o Dança no Gelo traz outra utilidade para a água em estado sólido.

Concordo com você, caro leitor amigo, que pensa não haver nada demais em um programa de entretenimento mostrar uma competição de dança entre “artistas” – em que o palco seja uma pista de patinação no gelo. No entanto, discordo da importância que as pessoas envolvidas dão ao evento. Já escutei “artistas” falarem que a competição mudou suas vidas. Provocou o rompimento de limites. E um monte de idiotices que, no momento, para minha felicidade e paz interior, não me lembro. E é óbvio que essa atração dominical é exibida para os telespectadores como um bem para a humanidade.

A briga por audiência na televisão, nos últimos anos, tem feito que algumas pessoas percam a noção do ridículo. A população brasileira parece interessada no grotesco mesmo. O bonito hipnotiza o telespectador. Corpos bem cuidados, fama e dinheiro são requisitos para alguém se tornar um “artista” no Brasil. Não importa se esse “artista” não tiver talento algum. Tendo, pelo menos, um dos três requisitos que citei acima – essa pessoa torna-se “artista” e pronto. Inteligência, cultura e originalidade são palavras com significados vagos na interpretação do telespectador. O Brasil está embrulhado para presente e exposto na tela de uma TV. O que há dentro desse presente é o que menos importa ao seu povo.

Então, fico olhando para aqueles “artistas” sorridentes e esbaforidos do Dança no Gelo. Eles sentem-se heróis. São vitoriosos em um país de miseráveis. Homens e mulheres invejados por seus semelhantes. Todos expostos numa vitrine de ilusão. E no meio do programa o apresentador Faustão faz um questionamento que mudará a vida de todos. Os “artistas” pensam profundamente antes de exprimirem suas opiniões. É preciso uma análise profunda para não decepcionarem o apresentador e seus telespectadores. Faustão quer saber quem matou uma personagem da novela. O país fica em silêncio com a mesma dúvida e a tola curiosidade. Mas, os “artistas” não podem ou não sabem dizer nem isso.

Dança no Gelo é um retrato do país onde vivo: superficial e medíocre. De uns tempos para cá, o ato de pensar transforma alguém em ultrapassado e chato. Todo mundo tem aquele amigo mais introspectivo e que é visto como sem graça pelo restante da turma. O Brasil não quer ser um país sem graça. Ele valoriza o carnaval, o futebol e a televisão. O país parece sempre estar em férias. Todo ser humano sonha com férias. O Brasil torna-se, assim, o paraíso. O lugar perfeito para se viver, mesmo que seja somente através da telinha. Acredito que, para deixarmos de ser humanos, e nos tornarmos BURROS (com letras garrafais), basta um controle-remoto na mão, e um domingão à tarde, na frente de uma TV. Que pena: estamos nos desmanchando como gelo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007


Solidão dos erros

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
O cigarro acabou e a aguardente também. Sentado nessa estrada poeirenta eu só penso na vida e nos problemas. A cabeça dói. Minhas mãos calejadas apodrecem. Nenhum carro cruzando a estrada. Nenhum barulho de animal que eu possa escutar. Amigos? Não sei onde. Inimigos? Estão longe. Aqui, somos apenas eu e você.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
A vida me passou a perna nessa manhã de domingo. Deus não pôde me ajudar. Eu pensei que fosse adulto e o mundo me mostrou que ainda sou uma criança. Fecho os olhos para enxergar tudo que aconteceu comigo. O tempo não me fez esquecer de nada. Os meus cabelos ralos e brancos caem num simples passar dos dedos. Aqui, somos apenas eu e você.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Ouço meus soluços e engulo uma água salgada que acho vir do peito. Algumas coisas a gente erra, mas não pensei que tudo pudesse dar errado. Olhando o sol que arde voando pelo vento, eu sinto medo. Sinto um medo que nunca tive em toda minha vida. Olhando o meu presente temo que o fim esteja próximo. Aqui, somos apenas eu e você.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Algumas coisas a gente erra, mas não pensei que tudo pudesse dar errado.

Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Solidão, não me deixe sozinho. Se você for embora, possa ser que eu tome uma decisão precipitada.
Algumas coisas a gente erra, mas não pensei que tudo pudesse dar errado.


Aqui, somos apenas eu e você.